Nos corredores de um supermercado.

 

 

Nos corredores do um supermercado. 

 

...e quantas saudades não sentimos ao se lembrar de alguém que já se foi, de alguém que não vemos a muito tempo, de um lugar que gostávamos de ir, daquela antiga canção romântica que toca na rádio ou de um certo acontecimento que nunca se apagou da memória.

Estamos tão atribulados com a correria da vida, fincados num cotidiano massacrante, que não percebemos a vida passar a nossa volta, assim, tão desapercebidamente.

E de repente, em meio a essa correria toda, você se pega num desses corredores de supermercado analisando, sentindo o aroma de qual desodorante ou sabonete você irá levar pra casa, e como num passe de mágica você se remete a um tempo esquecido, um tempo em que brincava inocentemente de pique-esconde, balança-caixão, passa-anel, salada-de-frutas, etc... etc...

Talvez pelo fato deste mesmo perfume, deste mesmo aroma estar contido num determinado produto qualquer que mãe costumava comprar naquela época, conciliando com as brincadeiras daquele tempo que sempre aconteciam a noite, logo após o banho, ou será que era por causa de uma certa garota, aquela mais bonita da rua, que este perfume ficou impregnado na mente. 

Lembro-me perfeitamente das broncas de mãe:  - Pare de ficar tomando banho de perfume menino! -  É, acho que é isso, fiquei com aquele cheiro e tudo o mais gravado na memória.

É penoso pensar que se acabou o que ali existia, aquele lugar já não é mais o mesmo, sem crianças brincando, correndo uma atrás das outras, só o que restou foram as pedras daquele chão em que passávamos todas as tardes de sábado brincando de taco, entre tantas outras.

Com os olhos voltados para o presente momento, me vejo naquele espelho da prateleira do corredor de perfumaria...  

De semblante pálido, rosto enrugado, dos brancos cabelos  camuflados por entre os negros,  imóvel naquele corredor segurando um sabonete, deveras cairá as lágrimas de saudades por um tempo em que o tempo sepultou.

Negar já não posso, pois tomado pela ardência do fogo da alma a dor desta lembrança.

 Essa viagem no tempo me faz lembrar de que não me arrependo de nada do que fiz, pelo contrário, me arrependo de não ter feito mais, muito mais!!