A visão divina
A visão divina
-Senhor, quero pedir-lhe um favor, não é um desses favores que estás habituado a ouvir dos meus irmãos. Peço-lhe 10% da tua visão, pois anseio alimentar os meus olhos com as mais belas e onipotentes imagens.
-Caro filho, tem noção do que estás a me pedir?
-Sim, senhor!
-Filho querido, te emprestarei 1% da minha visão, para que possa usar com cautela o olhar divino. Se depois de experimentar este 1%, desejar obter o restante, eu te passarei por completo os 10% que tanto anseia ter.
... O homem que queria enxergar como um deus, depois de colher imagens da Terra e captar em seu globo ocular toda a maldade e dores geridas pela Humanidade, ao invés de solicitar os 9% restantes do acordo, preferiu abdicar do 1% o mais rápido possível, para que não definhasse diante de tanta carga pesada.
Voltando-se ao Todo Poderoso:
-Senhor, perdoe-me a ambição de possuir o dom divino da tua visão. Devo aceitar a minha condição de ser humano. Por curiosidade, por que o Mestre não chora?
-Filho, se eu demonstrasse a minha fraqueza perante ti, de que forma eu te serviria como Líder?
-Mas Mestre, mesmo o senhor sendo onipotente é possível ter fraquezas?
-Para os olhos humanos sou perfeito, mas para os meus olhos sou apenas um esboço com traços imprecisos. Por este motivo, realizo a todo o momento vários ensaios para me aproximar da perfeição. E tu, filho, porque não te moldas novamente por voluntária iniciativa? Nunca é tarde para iniciar a própria construção.
Carlos Conrado