Inferno

A complexidade era evidente. Era um emaranhado de pensamentos e filosofias das quais não tinha certeza da dimensão. Mas a vontade se pôs acima de tudo. Não por mera curiosidade, mas o interesse em embriagar-se da beleza que aquele ser jorrava. Apesar do medo constante, soube desde o primeiro riso que se faria um só ao tocar lhe a pele.

Não se tinha o conhecimento completo. Muito menos tivera o tempo necessário. Mas a intensidade se sobrepôs, por mais que fossem algumas horas, algo ali se amontoou com algumas dezenas de melhores sensações que já vivera.

Há algo que me faz querer mergulhar em seu emaranhado, querer me deleitar nas suas teorias abrangentes. De preferência não precipitar-me. Seria um erro grotesco acelerar o tempo. És o tipo que merece a calmaria, os segundos lentos, os dias intermináveis. O quanto precisares pra se tornar esclarecida. Desmontar-se sobre a mesa, como um quebra-cabeça, para conhecer cada peça e saber exatamente onde por. Você. Uma obra a qual eu deveria admirar, cada traço, cada cor. decorá-la. Saber a medida que meus palmos percorrer-lhe-iam o corpo, sem ao menos tocá-la.

Permitiu-me, me permitir.

O calculismo e frieza se desvairam do meu corpo como areia depois do banho. E mesmo em negação, sua voz se tornou mais doce ao ecoar. Seu sorriso já pertencia ao meu. E a conclusão que poucos chegariam. Eu fui sua.

A vastidão do medo habituava minhas entranhas. Seria rude submeter-me. Desmanchei-me em outras bocas. Neguei a sua presença. Fiz o que costumava fazer. Deixar. Ir embora.

O que foi inválido. Reteve-me com um sorriso. Teve-me no seu canto.

Obrigou-me a me afundar nas suas histórias. Fez-me uma história.

Completou minhas frases. Calou-me. Envolveu-me.

Para findar, findou.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 24/05/2016
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