Aurora dos Corações Presos ou Por Quem os Livros Versam?*
Quem escreve por necessidade dificilmente irá lucrar em termos financeiros.
Dito isto, fico a me perguntar se lançar livros um tanto fora da proposta mercadológica ($$$, $$$, $$$...) auxilia seu autor ao menos em termos de divulgação de seu trabalho. Não cair na mediocridade, não ser um eco (isto é, repetir fórmulas, discursos, dar força à influência, elemento esse bem maior que o da inspiração; afinal, por "influência" pode ficar entendido um poder de manipulação indireta de um ou mais autores sobre si mesmo).
O que queremos? Currículo? Bem, nesse caso... A lógica de mercado disfarça-se sob a máscara da identidade profissional (cacete: não encontrei termo mais adequado; estou a escrever sob a influência da falta de tempo, heh-heh). Ora, ora: "currículo", assim, significaria apontar para as competências e habilidades profissionais do potencial candidato. Sem querer ter tiques/afetações de monge tibetano que se opõe ao capital, ao lucro a qualquer preço, defendendo apenas o conceito de "Ars Gratia Artis", mas... o currículo Lattes NÃO é indispensável mesmo a escritores ou ao menos a acadêmicos com livros publicados? Logo, vê-se, portanto, que um currículo, ao menos sob a lógica de mercado (profissões devem falar mais alto; afinal, é o salário que paga as nossas contas, não? É com ele que devemos contar para nos mantermos sob um teto e mesmo a manter esse teto, com tudo que há por baixo dele...), é essencial para discriminar nossas conquistas das conquistas dos outros, ora classificando-as, ora eliminando-as do rol dos vencedores (triste constatar, so to speak/en passant, de que mesmo o doutorado, num Brasil como o nosso, pode não ter a valorização que se espera de um grau de estudo dessa natureza).
Então, Bixo: publicar para vender ou para meramente inserir teu nome na praça? Para ver o resultado de tua veia literária exposto nas prateleiras de algumas livrarias de renome, num país como o nosso, em que tudo o que destoa do bom senso (nossos DESgovernantes, num embate eterno, têm nos dado exemplos disso, ainda que da pior maneira possível, nos fazendo acreditar que há vítimas e que elas são os políticos e NUNCA O POVO, de modo algum).
Publicar para vender? Vamor harrypottear tudo com nossos trocentos tons de cinzas para servirem de mote a algum livro para colorir. Com sagacidade chegamos a compor algumas sagas sobre reinos de gelo com dragões que viram mariposas durante a noite e mandam mensagens do reino dos mortos vivos... Medalhões -- e eu não tô falando, cara, de amuletos que se carregam no peito. Não tem jeito. Refiro-me aos copiosos (na acepção mais geral do termo: "muitos" e meros "copistas" -- opa! rima com "golpistas"; em termos de falta de criatividade, plagiemos, pois; vai que dá certo?)
Publicar para ter seu nome entre tantos outros? Ora, ora... Sei não. Publique-se, caramba. Meta as caras. Que só por ser publicado já deve surtir algum efeito. Sabe duma coisa? Posso ser sincero contigo, posso? Então: apenas pelo fato de poder contar com uma meia dúzia de gatos pingados -- mesmo sem ficar dando as caras em tudo quanto é Bienal, Festivalorização Libertadora Para Ti etc. --, leitores interessados em teus livros, já vale a pena. A vida tem disso. Por isso assuma o teu compromisso. Publique-se. E livre-se de sofrer com trabalhos engavetados.
Dáblio Vê Fochetto Jr.
NOTA
* WV Fochetto Junior é professor da rede pública há dezoito anos. Possui alguma coisa publicada (em coletânea de poemas, na internet e num jornal de escola que já nem deve existir mais). Seu currículo "é fraquinho" (na opinião do próprio, que se autoafirma um perfeccionista e chato de plantão), por isso não tem coragem de postar aqui. Até pelo aspecto contraditório entre essa mesma publicação e o post.