Vinte e três zero quatro
Era para ser só um beijo.
Mas sabe quando tudo foge um pouco do controle? Foi assim. Fugiu. A razão fugiu, mas a emoção continuou ali, paradinha, dominando tudo.
Era para ser só um beijo, mas foi mais. Foi a lua nos observando e o som do mar se sobressaindo ao barulho que vinha dos quiosques, das pessoas e dos carros na avenida. Foi aquele meio sorriso, aquele bem sutil, mas que logo deu lugar a um sorriso inteiro.
Era para ser só um beijo, mas foi um abraço forte. Foi aquela disputa para ver quem apertava mais durante o abraço. Foi a mão dele segurando a minha. Eu odeio que segurem minha mão, mas deixei que ele segurasse por um minuto, dez minutos, vinte, quarenta, todos os minutos até a hora que cada um teve que seguir para a sua casa. Foi "Amei Te Ver" tocando nos meus pensamentos porque, realmente, eu estava amando vê-lo. Vê-lo ali, ao meu lado, e não numa foto no Instagram.
Foi a conversa desajeitada e o meu pedido de desculpa quando fiquei nervosa ao perceber que ele estava muito perto e mal consegui beijá-lo. E também quando o meu cabelo resolveu se infiltrar entre minha boca e a dele. E ele se desculpando por beijar meu olho sem querer. Tudo bem, eu gostei.
Era para ser só um beijo, mas foram vários. Na bochecha, na testa, na boca, no ombro, no pescoço. Foi a minha mão bagunçando o cabelo dele e depois fazendo carinho na nuca. Foi o afago que o indicador dele fez nas costas da minha mão. Foi aquela frase boba que eu disse e que ele respondeu de um jeito fofo. Foi o trecho de uma música que eu não sabia completar, mas fui pesquisar depois que cheguei em casa.
Foi a minha cabeça no peito dele, foi aquele perfume forte me deixando um pouco tonta. Foi o carinho no meu cabelo, foi a leveza para segurar meu rosto e me beijar novamente. Foi o encontro do verde com o castanho. E, logo depois, ambos olhando na mesma direção. Foi o brilho das luzes dos navios distantes, mas eu tenho certeza que o brilho no meu olhar foi muito mais intenso. Foi o beijo na mão. Foi o abraço de despedida. Foi uma mão sem querer soltar a outra. Foi tudo.
Era para ser só um beijo. E pode ser que, para ele, tenha sido só isso: um beijo, um momento, um fim de tarde, um começo de noite. Mas, para mim, foi mais. Foi o beijo. O momento. O fim de tarde. O começo de noite. O dia em que eu tive a sensação de (finalmente) estar beijando quem eu sempre quis ter por perto, nem que fosse só por um instante.