Coerção
E pode ser que sim,
que eu mereça o que procuro;
que eu não mereça viver no escuro;
que a confusão que me bloqueia,
se dissipe como água em superfície quente.
De repente, eu entendo
que o centro não sou eu;
que o relógio não serve a mim;
e que por mais que eu queira assim,
eu devo ceder primeiro para ganhar depois.
Mas, se a regra é a mesma desde sempre
e o intuito de uma vida é ser contente,
porque nasci desconectado do padrão?
Quero acreditar que não, admito,
mas cada segundo que passa é mais difícil crer.
Pois tudo o que olho e tudo o que vejo,
é que sou passageiro da minha própria condução;
vivo nos bastidores do meu protagonismo,
acalmado por drogas que eu mesmo administro,
na tentativa de perpetuar uma coerção
de mim, para mim, contra mim
porque o mundo quis assim.
Da violência não tiro nada,
e não procuro mais dores do que as que eu carrego.
Por isso é mais fácil ficar preso neste mundo incerto:
quando todos se distanciam, o coração é aberto,
e dou vasão para o que considero certo.