Uma vida no facebook
Infelizmente as redes sociais enfraqueceram os pequenos rituais que nos asseguravam da amizade ou mesmo admiração sincera das pessoas. Por isto agora é mais fácil parecer amigo ou fingir admiração e por consequência triplicar o número de "amigos" e "admiradores".
Em outras palavras, as redes sociais te facilitam muito o trabalho de ter falsos amigos e admiradores oportunistas. Não conseguirá muitos assim na vida real. E por que não?
A amizade verdadeira se mostra mesmo num processo e no convívio que é muito mais rico e cheio de detalhes do que uma foto num perfil social que lhe escreve suas falas. O jeito de olhar, as reações diante das dificuldades do amigo, a admiração que não se limita a circunstâncias, a maneira de falar, os diversos gestos tudo isto nos comunica muito mais do letras abreviadas de uma foto de um sorriso congelado.
Todo mundo sabe disto, a novidade não é esta. Uma pessoa medianamente inteligente é capaz de saber a diferença entre a amizade virtual e aquela real. Aquele se dá mais na rede do que na vida real. A questão é: por quais razões somos tão fascinados por relações que sabermos superficiais?
É a esperança de ser visto na multidão. É como sair pra encontrar alguém que possa se relacionar. Você vê um monte de pessoas e talvez encontre nesta multidão alguém que lhe queira de verdade. Mas procurar isto em redes sociais é como vendar os olhos para encontrar melhor uma chave perdida em casa.
Estes rituais que a rede apaga do nosso horizonte nos dão a segurança e a profundidade necessária para dividirmos algo com outra pessoa. Se substituímos estes momentos de contatos pessoais pelos encontros na rede, ganharemos quantidade no lugar da qualidade.
É uma vida empobrecida de contatos e interações (é engraçado que falam de interatividade das redes sociais, sendo o que o ocorre é o seu empobrecimento). Um exemplo simples disto é que para vivermos algo com as outras pessoas, precisamos o tempo todo sentir que elas realmente sentem conosco, experimentam conosco e se emocionam conosco. Nas redes sociais este sentir é não é reforçado pelos pequenos rituais que já citei. E de fato acabamos não vivendo intensamente as amizades e outros relacionamentos.
Outros aspecto entristecedor disto tudo é que não temos consequências nas redes. Lá podemos ser valentões, líderes revolucionários, artistas de cinema, nerds e militantes de qualquer coisa. E ao mesmo tempo não ser, por não vivermos as desilusões, os sacrifícios e as experiências que fundamentam estes papeis.
A dor, a porta-fechada, o aprender com o sofrimento, o crescer com as experiências é que moldam as personalidades, sejam herós ou vilões. A rede nos poupa deste trabalho mais pesado em troca do vazio da aparência, da fama sem mérito.
É a diferença entre salvar a humanidade no jogo de computador e se lançar nas duras empreitadas e aventuras que a vida impõe aos que desejam deixar sua marca sobre ela e não num "score" de jogo ou num álbum de fotografia no Facebook.
A rede nos poupa de alguém essencial pra nossa maturidade que se chama vivência. E o tempo, traz os sofrimentos das perdas e do envelhecimento, mas a natureza nos permite amadurecer e crescer com tudo isto. Mas até isto a rede tem nos tirado e corremos o risco de sermos adolescentes de meia-idade despreparados para a vida.