Surtando, realmente surtando!
Estou surtando, literalmente, surtando dentro de realidades difíceis de engolir. Surtando da falta de amor, surtando do desapego, surtando de meu “eu” mesmo.
Surtando da falta de carinho, de um colo e ombro amigo. Surtando de filosofias baratas de pessoas mal amadas e mal agradecidas, surtando da infidelidade humana.
Estou debochadamente surtando do samba mal cantado, do tango mal dançado da cabrocha mal amada.
Deliciosamente surtando da noite mal dormida, do amor mal feito, da angustia no peito.
Estou surtando por nós, um nós inexistente de uma mente perturbada. Estou surtando pela piedade divina, por almas deslocadas.
Loucamente surtando das loucuras efêmeras, distintas loucuras.
Deliberadamente surtando nas minhas razões sem razão de ser.
Desonrosamente surtando meu ser.
Socorro, eu gritei aos quatro cantos, chorei, implorei e fui sufocado.
Minhas palavras soltas, usadas e reutilizadas contra eu mesmo.
Confesso surtei, preciso meus cacos juntar, na minha insignificância ficar para remontar.
O cristalino de m’alma descaradamente escureceu.
Alma desafiadora que ninguém entende - surta!
Surtada sigo a caminhada, sem saber para onde ir e onde repousar minha insignificância debochada da falta de lucidez.
Hoje a dama de preto com decote insinuante, na boca batom vermelho, cabelos solto na madrugada, sem medo desfilará nas ruas surtada. Puxa uma cadeira, sorri, acende um cigarro, viaja nas recordações e chora.
Fingindo-se centrada, mas, enamorada, deslumbrada pela lua, apaixonada pela vida e boemia, vai à dama surtada.
Surtei, não preciso mais de socorro!
Rosa dos Anjos - 2016