Epígrafe_Betinho
"[...] Projetar o futuro é temer ou desejar. [...] Pensar o futuro atrai, desafia e engana. E mudar o futuro depende de mudar a maneira como se pensa o presente. [...] Não faltam argumentos para quem imagina o futuro como o presente piorado. Se o modelo “casa-grande e senzala” prevalecer, não haverá outro recurso senão viver numa prisão de ruas fechadas por seguranças privadas, em bunkers residenciais. Nesse caso, o futuro brasileiro terá, pelo cinismo e pela indiferença, a sociedade que a África do Sul fez no passado pelo racismo e pela violência.
[...] É preciso começar pela miséria. [...] No combate à fome há o germe da mudança do país. Começa por rejeitar o que era tido por inevitável. Todos podem e devem comer, trabalhar e obter uma renda digna, ter escola, saúde, saneamento básico, educação, acesso à cultura. Ninguém deve viver na miséria. A sociedade existe para isso. Ou, então, ela simplesmente não presta para nada. O Estado só tem sentido se é instrumento dessas garantias. A política, os partidos, as instituições, as leis só servem para isso. Fora disso, só existe a presença do passado no presente, projetando no futuro o fracasso de mais uma geração".
(Extraído de Ética e Cidadania, de Herbert de Souza (Betinho) e Carla Rodrigues; Editora Moderna, São Paulo, 1995; págs. 32-34)