O QUE JÁ SABÍAMOS

Mais uma vez ele dá um beijo na minha cabeça, se levanta, disfarça e sai do quarto pra atender o celular longe de mim. Dou pausa no filme. Levanto, vou na cozinha, observo ele na varanda da sala e volto pro quarto. Depois de algum tempo, ele volta e deita ao meu lado. Pergunto quem era; "Só um amigo!" Sempre que faz isso, me vem aquela música do Ed Motta tocando em minha mente. Qual é mesmo? Vendaval.

'Pra que mentir, se eu já sei quem ligou

Eu sei de cor o que você nem pensou

Na minha vez, você não quis entender

Fingir pra quem, que tudo está tudo bem'

Ele age como se não estivesse acontecendo nada. O silêncio é gritante, quase ensurdecedor. Ambos fingindo que estava tudo bem. Fingindo pra quem? Acabou o filme, ele me deu um beijo de boa noite e ainda disse que me amava. Virou pro lado e dormiu. Minha mente estava acelerada, recapitulando cada momento que passamos juntos, me perguntei onde foi que nos perdemos um do outro, quando foi que demos espaço pra outra pessoa entrar na nossa vida. Era triste admitir pra mim mesma que não havia mais nada e que nenhum de nós tinha coragem de assumir isso. Não dormi. Pela manhã, ele acordou e eu estava na sala. "Pra que são essas malas?" "Eu tô indo embora. Vou sair da sua vida antes que você, gentilmente me convide a fazer isso." "Mas, por que eu faria isso?" "Porque não há mais amor em nós. Sabemos disso, só não queríamos admitir por medo da dor que agora sentimos. Você já encontrou outra pessoa, não sou boba." Silêncio. Eu chorei, ele chorou, mas não havia mais nada a ser dito. Ainda restava um pouquinho de amor no nosso olhar, mas não era o suficiente. Peguei minhas malas e saí, sem rumo, sem chão, sem norte...

2015/04/12

Aline Alves
Enviado por Aline Alves em 27/04/2016
Código do texto: T5617565
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