Dois dedos de chá
Suas roupas e cabelos eram descuidados, como se quisesse propositadamente esconder sua beleza desconcertante.
Seu olhar, longínquo como uma paisagem que se perde no horizonte.
Suas atitudes, indiferentes como se nada mais fizesse muito sentido.
Seu toque, superficial como se não quisesse deixar marcas. Principalmente as internas.
Seus beijos, frios e passageiros como hóspedes de um hotel a beira da estrada.
Ela não se deixava fotografar. Como uma foto, parecia não querer ser revelada.
As lágrimas que por vezes escorreram pelo seu rosto, entretanto, delatavam o transbordo de uma agonia que seu silêncio eloqüente insistia em esconder.
Nunca soube mais do que o seu primeiro nome, se é que aquele nome era o seu.
As perguntas que lhe fiz, sempre ecoaram sem resposta.
Sabe, se não fosse pela xícara deixada com dois dedos do seu chá predileto, diria que talvez ela nunca tenha existido.