ÉTICA MÉDICA
Quando me formei em Medicina, tive aulas de Ética Médica, onde nos ensinaram a entender que não estávamos só tratando doenças, mas principalmente lidando e apoiando nossos clientes.
Ao entrar na Faculdade, eu já havia entendido que precisava cuidar e ser amigo de meus clientes, lição esta que aprendi com meus pais e padrinhos, o que me levou a acreditar que o melhor curso seria o de Psiquiatria a ser concluído, pois cria que assim eu tentaria complementar minha crença em minha origem, pois eu acreditava que Deus me dera a vida para ser feliz e fazer felizes os meus irmãos.
Ao completar meus ensinos exigidos, prossegui o pós-graduado em Psiquiatria, que começara um ano antes da formatura, com vivência ao lado de uma maravilhosa Psiquiatra, que atendia um Hospital Psiquiátrico e eu conduzia os clientes para as consultas diárias, conduzindo-os com carinho e lhes transmitindo esperanças, assim como aprendendo a tratá-los.
Ao me sentir preparado, comecei a buscar um bom emprego e vim para o interior de São Paulo, onde, por ser iniciante, ensinaram-me a fazer algo que nunca gostei: Aplicar eletro-choque nos pacientes psicóticos.
Detestava tal tarefa, principalmente ao saber que a descarga elétrica no cérebro havia causado muitas consequência ruins, inclusive demência em muitos pacientes.
Juntamente com um engenheiro de eletrônica, diretor do hospital psiquiátrico onde eu trabalhava, que tinha inclusive uma rádio que abrangia muitas cidades próximas, começamos a fazer pesquisas e uma vez em que apresentei um trabalho no exterior, passeando, vi e comprei um Multímetro, que era muito completo e lindo.
De volta ao Brasil, uma idéia brotou em minha cabeça, ainda no avião de volta: “Vou começar a medir a resistência bi-temporal dos clientes indicados aos eletro-choques.
De posse dos resultados colhidos em diversos hospitais, resolvi escrever minhas conclusões de como aquele “tratamento” era lesivo, propus que fosse eliminada esta forma de “tratamento”, mesmo porque começavam a surgir os primeiros neurolépticos, com melhor eficácia.
Li o trabalho que fiz num Congresso Psiquiátrico no Rio de Janeiro, de manhã, sendo que à tarde eu faria a prova para conseguir o título de Psiquiatra. Enquanto lia, vi crescer o número de ouvintes, que eram trazidos por pessoas que estavam já ouvindo sobre o trabalho.
Ao finalizar a leitura, uma quantidade grande de colegas passou a me interrogar, pois acreditaram que eu falava a verdade.
De início fiquei muito preocupado, pois aproximava a hora doa prova para obtenção do título. Sai rápido e engoli um sanduíche e fui para a fila prestar o exame. Na fila de entrada fui indagado: “Nome?”
Dei o meu nome e ouvi uma afirmativa que não entendi bem: “Você está dispensado de fazer a prova...” Entrei em pânico e perguntei: “Por quê?”. A Resposta: “A Associação Médica acreditou que você está capacitado a ser Psiquiatra, frente ao trabalho sobre o eletro-choque, que causou enorme apelo ao seu ponto de vista”.
Este foi um choque maravilhoso que tomei, seguido em pouco tempo da proibição de usar o tratamento inadequado com choque, no mundo inteiro.
Não faço este relatório para que me considerem o Rei da Psiquiatria, mas serviu para que eu confirmasse algo que me fizeram acreditar já na Faculdade de Medicina, como relatei inicialmente: eu não tratava doenças e sim ajudava as pessoas a se encontrarem, dentro de suas capacidades intelectuais.
O principal motivo de minha prosa é indagar a todos os médicos se podemos olhar para dentro de nós e respondermos se estamos tratando os clientes, ou fazendo tratamentos corretos sobre as doenças?
Tenho certeza de que muitos médicos não agem assim, fazendo consultas através de “CONVÊNIOS de ARAQUE” com durações de 5 a 15 minutos, muitas (a maioria) das vezes, sequer, sem examinar o cliente, fazendo exames vagabundos, como já fui submetido, a alguns deles sem nenhuma anotação médica, ou mesmo um cumprimento de chegada ou de saída.
O quê pretendem estes “profissionais”? Ficarem famosos na economia de tempo? Ganhar “merrecas” por consultas médicas? Fazer banco de seus convênios milionários e serem sócios desta “instituição”?
Para onde foi a Ética Médica? Para onde se dirigem estes profissionais? Para a degeneração do ato médico? Como devem agir as entidades médicas, diante deste descalabro?
Diante da crise, tenho visto clientes deixando de comparecer às consultas pagas, buscando “ajuda” a conveniados cronometrados, por falta de dinheiro. Poucos dias depois, voltam completamente danificados, por alguns destes desconhecedores do tratamento pessoal.
Tenho visto “peritos”, contratados por prefeituras e outras entidades sem identidade moral, que exigem serem os “peritos” implacáveis nas altas médicas.
Sou Perito Médico-Judicial e tenho visto fatos apavorantes, um deles camuflado por uma entidade médica.
Lembro-me de ter concordado com o que escreveu o autor Jayme Landmann em 1975, no livro A ÉTICA MÉDICA SEM MÁSCARA, onde ele reafirmou e acentuou minha crença na Ética Médica mais correta, baseando sua descrição no ser humano que precisa de apoio, amor e carinho, não em receitinhas ou milhares de exames médicos, sem sequer ter cumprimentado o cliente, na entrada ou na saída do consultório.
Temos que regulamentar eticamente, ou por meio de sanções, os médicos que fazem de seus clientes meios de se enriquecerem, deixando a ética médica na lixeira.
Não tenho a intenção de me promulgar o melhor médico do mundo, mas de despertar em todos que as cachorradas que criaram esta crise brasileira, só tem como responsáveis a ignorância dos votantes em dirigentes de uma burrice total, exceto por ganhos safados.
Repito que para ser um médico um pouco melhor, tenho que crer na minha incapacidade, tosos os dias e buscar rever o que sei: só um mínimo, ou nada.
Que as Entidades Médicas não me considerem um exibicionista e tentem me prejudicar, escondendo seu não aprofundamento na ÉTICA MÉDICA INTEGRAL.
Vamos exigir competência de quem nos governa e não fazermos um papel de idiotas, cegos, de uma ignorância total, exceto quando sobra o dinheiro.
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Dr. Márcio Funghi de Salles Barbosa
Psiquiatra – Perito Médico-Judicial