A idade e os sulcos

Ontem eu estava pensando nas coisas que eu já vivi e como foram boas as lembranças... Percebi que as mãos que escalavam o pé de manga no quintal não são mais tão fortes para suportar o peso do meu corpo e da minha idade. A idade chegou bem de mansinho e soprou nas minhas mãos alguns sulcos que antes não existiam aqui! Corri para o espelho hoje de manhã e ví que a idade estava tentando me refrescar por muito tempo, um hálito de hortelã, porque tenho os mesmos sulcos no rosto, bem embaixo dos meus olhos agora existem umas linhas que foram escritas por quatro décadas e meia, que revelam no meu sorriso que amei mulheres diferentes, que amei amigos ausentes, que amei momentos tão contentes... Essas linhas, as pessoas costumam chamar de rugas, eu as chamo de cânones da minha vida: Ninguém tem paciência para ler, saber o que está escrito aqui no meu rosto, mas são minhas linhas de história. A idade resolveu graciosamente colocar em torno da minha cintura masculina, uma bolsa com várias lembranças de tudo o que minha esposa, minha mãe e minhas irmãs gostam de cozinhar pra mim, eu não sei como foi que isso aconteceu, mas está tudo guardado aqui, bem na minha frente pra eu me lembrar que não é gordura, são sim minhas lembranças culinárias. Ontem eu estava pensando nas coisas que eu já vivi e percebo como essas lembranças estão registradas pelo meu corpo todo em forma de cicatrizes e rugas, já que estou ficando fraco da memória, essas marcas me fartão lembrar que eu sou feliz, que eu tenho família, que criei meus filhos e meus calos amarelos na palma das mãos não deixarão que eu me esqueça. A idade e sua mania de soprar em mim e criar sulcos pela minha pele...

Por Escritor Paulo Siuves

Paulo Siuves
Enviado por Paulo Siuves em 21/04/2016
Código do texto: T5612189
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