O palco vazio
Todas as ilusões se encontram em um mesmo lugar
Para a reunião anual dos sentimentos perdidos
Sua calmaria estoura nos rochedos como as ondas do mar
Você entra em uma loucura lúcida enfrentando os delírios
Devaneios intermináveis que acompanham o sofrimento
Você começa a afundar em algum lugar no seu interior
Para ter uma visão melhor do que está à sua volta
Sem ter para onde fugir você se entrega sem medo
Deixa-se levar até a caverna intrínseca do pesar
Penetra profundamente na mais pura sensação da dor
Não luta contra porque se trata de uma velha amiga
Que acompanha os seus passos desde o princípio
Ela faz parte de tudo o que você é até agora
Você se torna um ser insignificante aos olhos da verdade
Um mero equívoco causado pelo erro de origem
Um símbolo vivo de uma decisão precipitada
Que sobreviveu a todas as batalhas e guerras
Mas nesse instante todos os muros caem
E você surge no palco vazio se sentindo exposto
Volta no tempo sentindo a dor das noites no escuro
Em busca de um canto qualquer para descansar
Relembra os olhos que lhe condenavam sempre
Daquele dedo sempre apontado para o seu rosto
Das risadas que estavam sempre as suas costas
Quando todos pensavam que você não estava ouvindo
De todas as vezes que estava sem alternativa, sozinho
Em alguns segundos você se torna invisível
Aos olhos de quem é mais relevante para você
Por mais que os rostos sejam diferentes
E o olhar se torne indiferente ao toque
O sentimento no peito é sempre o mesmo
É como gritar quando não se tem mais voz
Você sente que esta se afogando na sombra à sua volta
Tornando tudo em você desnecessário, dispensável
Como um adereço que é deixado de lado sem utilidade
Jogado em um canto e esquecido para sempre
Todas essas coisas giram ao seu redor ao mesmo tempo
Você até tenta fugir, mas sabe que tudo está entrelaçado
Pois tudo que você sente está dentro de você
Preenchendo cada espaço vazio que você teria
Se não fosse esse peso extra que você carrega
As lágrimas já começaram a marcar o caminho
E a única coisa que você deseja é poder sumir
A tristeza de carregar tudo isso corrói os ossos
Tornando você um ser gasto, sem valor
Tentando de todas as formas mostrar sua verdade
Mas ninguém se interessa em ler sua história
Todos só precisam que suas vontades sejam atendidas
De preferência que seja sempre rápido e em silêncio
E isso já basta para todos aqueles corações limitados
No túnel vazio e escuro que a vida acabou se tornando
Vaga uma alma errante sem esperança e aflita
Na inquietude dos pensamentos embaralhados
Ele acredita que não tem direito a sorrir
Se convence de que é melhor não ser notado
Para fugir das relações necessárias para o viver
E toda a súplica que foi criada pelo tempo perdido
Que causa mais e mais flagelos ao seu corpo
Incansáveis noites que o sono não vem
Um oceano de magoas e angústias criadas
Exclusivamente com muita atenção para você
Escondendo o sepulcro que a muito espera seu corpo
E na penúria do que um dia se chamou felicidade
Rejeitando os versos sem sentidos do seu epitáfio
Aquiesce em seus últimos suspiros sem entender
E ajoelhado aos pés do ceifeiro com a cabeça baixa
Lembra-se de todos os pecados que foram cometidos
De todas as palavras que foram ditas e não entendidas
De quando virou as costas em vez de olhar nos olhos
De todas as chances que você não se deu, por medo
Em seus últimos minutos se permite sentir a plenitude
E finalmente entende tudo aquilo que está à sua frente