Chamado selvagem

Penso atender ao chamado selvagem, o uivo de um lobo na montanha, um lobo solitário que me chama e que mora dentro de mim, e atendê-lo é voltar as origens, a terra dos meus antepassados, a todas as gerações que lá ficaram misturadas ao solo, como destino final e recomeço.

Hoje somos poucos espanhóis no Brasil, pois a imigração se fechou definitivamente em 1974, depois de uma sequência gradativa de reduções e limitações, o Brasil finalmente havia adquirido a sua maioridade, os tantos povos que vieram e ajudaram a construir o país, já haviam cumprido a sua missão. Das últimas vezes que estive na polícia federal renovando a minha carteira de estrangeiro, só encontrei em sua maioria, povos andinos, com aquela característica física recebida dos maias, incas e demais civilizações; mulheres baixinhas , algumas de tranças negras, morenas , com crianças chorosas nos braços, e homens com olhar de esperança. Os olho com carinho, e me vejo neles de alguma forma, vejo novamente os meus pais, e decifro os seus sonhos.

Pela lei, já não precisarei mais renovar , o tempo que estou por aqui me garantiu esta vantagem, e apesar de na juventude tantos amigos terem me incentivado à naturalização, sempre a rejeitei. Somos o que somos, não é um pedaço de papel que muda alguma coisa no coração das pessoas, não temos nacionalidade , temos terra, o que é diferente.

Na idade militar tive que jurar a bandeira do meu país, lá no consulado , e se a Espanha entrasse em guerra, seria chamado. Nunca fui ligado a essas coisas de armas e uniformes, minha natureza é livre demais para me engajar em alguma coisa, embora tenha coragem, mas não para morrer por lutas inglórias.

Nunca participo de qualquer tipo de engajamento, se amanhã o clube dos bigodudos me chamar, não irei , pois sou um bigodudo independente, rsrsss...com direito a arrancá-lo se assim me der vontade, sem pedir licença. Uma brincadeira , é claro, só para dizer sobre a antipatia que tenho por confrarias.

"Deve ser assim ou assado", as pessoas vivem colocando-se rédeas por conta própria, amarras e arreios, e pra que ? Deve ser como queremos que seja, e pronto ! O maior dom que recebemos ao nascer é a liberdade, e dela querem se apropriar ? Nunca !

Nascemos tão desamparados que nem bolso para colocar as mãos temos, se não fosse o abraço exausto de uma mãe, não viveríamos, então que devo a tanta gente ? Absolutamente nada !

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 15/04/2016
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