Sotaque dos Suspiros
Cada vez que miro a bocarra insípida desse cadeado com a ponta da chave é o mesmo tormento. Que eu não entendo. É como se você tivesse, durante as horas passadas, ficado me regurgitando e essa fosse enfim a hora da escarrada. Não tenho capacidade de saber o porquê de muitas coisas, mas por que gostar de alguém que fica de quatro e de costas para um espelho analisando o próprio cu? Recolho as toalhas negras usadas nesse cio fodido e menstruado e inalo esse fedor danado do que no fim me fez esgazear os olhos de prazer as estendo no varal lado a lado com a minha autoestima. Amanhã gosmas secas, cheiro incrustado. Tudo passa com água. Cada vez que miro sua boquinha gostosa se envergando num sorriso discreto precedente a algum palavrão eu entendo o porquê de muitas coisas. Volto as órbitas dos olhos para dentro do meu crânio esperando alguma frase tua que não me fira. Eu caio de boca na sua buceta e faço seu clitóris refém de toda a ambivalência do amor-e-ódio que te tenho porque eu me desespero quando penso que a fuga à razão pode vir a corromper a estagnação dessa sujeira.
Nervo exposto, você.
Dona do meu ódio.
Sotaque dos suspiros.
Reparei como há pedras para chutar no caminho de volta pra casa como há estrelas no céu a olhar
[nessas madrugadas.
Te quero tanto quanto a forca quer nossos pescoços em dias ruins.
[...]
Kings of Leon - Back Down South
09/04/2016 - 01h26m