Pensamentos XXXV
Eu escrevo minha história - assim dizemos. E quando olhamos, perplexos, para trás: Quem escrevou esta história, eu a desejei que assim fosse? Ó, e quem tem a vida que deseja? Quem?
Eu escolhi - assim dizemos. E num primeiro momento nos convencemos, mas um olhar mais aguçado para a questão mostra que não escolhestes ter o corpo que tem, nem ser o que é.
O passado ordena os fatos de nossa vida numa ordem linear, até parece tudo premeditado, não?! Não estaria escrevendo isto aqui hoje - e nem você lendo - senão fosse pelo fio existencial que me liga a todas as causas da existência. Dizer Sim a um instante, é dizer sim a existência inteira.
Só compreendemos a história no seguinte depois, depois da ação, e assim dizemos: assim eu fiz, assim eu não quis - salvo raras vezes: assim eu quero!
Quem fizestes alguma coisa? Acordas quando quer, ou quem sabe, escolhes o momento em que terá sono? Sente fome quando deseja? Sabes qual o próximo pensamento que irás pensar? Quando escolhestes amar? O que, no outro, há que nos faz sentir atraído por "aquele" e não "este"? Escolhestes nascer? Quando programastes a hora de tua morte? Escolhestes sofrer, se alegrar? A vossa vida é tudo aquilo quanto não quis ser.
Ó, como somos iludidos...
"Do alto da arrogância qualquer homem
Se imagina muito mais do que consegue ser
É que vendo lá de cima, ilusão que lhe domina
Diz que pode muito antes de querer
Querer não é questão, não justifica o fim
Pra quê complicação, é simples assim" ___Lenini