Eu escolhi a escuridão

Em uma madrugada qualquer, abri um portal. Fiquei surpresa com o que vi ao transpassa-lo. Haviam duas filas, uma extensa e outra menor. A com maior número de pessoas, tinha seu desfecho na luz, e claramente parecia ser uma boa escolha ficar paradinha ali; já a outra, com poucas pessoas, levava para uma escuridão tremenda. Resolvi ir na primeira, óbvio. Esperei, esperei... mas ela nem se movia direito. E pior que isso, mesmo de longe, era visível que do meio para frente as pessoas brigavam entre elas, provavelmente para conseguirem um lugar melhor. Eu acho...

Quer saber? Decidi escolher a fila da escuridão. Nela as pessoas não eram ruins, apenas estavam cabisbaixas, meio que reconhecendo as suas fraquezas interiores. Não se trombavam, pelo contrário, nem se importavam que passassem na frente. Sem dúvida aqueles seres tristes apenas buscavam um lugar quietinho e aconchegante para chorarem.

Mas em certo momento fui surpreendida. Assim que as filas foram chegando próximas do fim, elas inverteram suas direções. A que ia para a luz, passou a mirar na escuridão, e a da escuridão trilhou para luz. Agora eu podia ver claramente, as pessoas da primeira fila não brigavam por um lugar melhor, mas estavam é desesperadas para voltar. Porém o fluxo de gente se achando digna da claridade era tão grande, que não havia mais como retroceder. Enquanto isso, a fila dos deprimidos foi se iluminando, e os rostos outrora tristes, começavam a ficar alegres...

E foi nesse momento que fechei o portal e voltei a mim. Ufa, que bom que eu escolhi a escuridão.