As pessoas que mais sofrem são aquelas que não sabem o que querem
Antônio não gostava de falar das coisas que brotavam em seu coração. Ele somente colocava dentro da sua caixinha marrom e esquecia depois de escrever. Desde que tornou-se um homem de cabelos grisalhos e pele enrugada, nunca pudera desfrutar de bons momentos consigo mesmo. Tornou-se amargurado e cheio de incertezas. Pedia que sua salvação viesse logo. Que sua alma fosse levada do seu corpo físico e que ele fosse jogado -já cremado..- nas vielas e nos lugares que ele quis estar. Queria uma saída. Queria parar de correr dentro da sua mente e mais uma vez, quis se entupir de analgésicos pra ver se conseguia dormir. Funcionava algumas vezes.. mas sua cabeça estava tão confusa e solitária, que ele se frustrava tanto que sentia cada vez mais necessidade de correr rápido.. só pra fugir das garras do seu ‘eu’. Sua solidão era constante e sua dor também. Suas juntas, seus pés, seu corpo todo parecia fenecer de tanta tristeza guardada. Ele queria se salvar. Ele queria deixar de inventar personagens pra falar do seu querer mais doentio: o de sumir. Ele queria ter coragem de admitir suas falhas, recolher suas incertezas e antes de deitar parar de fingir que não sente nada. Quem sabe isso muda algum dia.. mas por enquanto.. Antônio só quer continuar fingindo que está tudo bem, que ele realmente aguenta tudo sem chorar no travesseiro as dez e meia da noite.