considerações sobre a escrita

Desde antes de nascer sinto que estou grávida de alguma coisa – não sei se estou grávida ou essa coisa está grávida de mim. Vivo como em meio de um caos, de ideias desorganizadas, de ansiedade de expressar algo que sei o que é, mas não sei como expressar porque não existe palavra para isso. Já tentei através de todo tipo de arte vomitar isso, mas a cada vez parece que renasce dentro de mim como musgo em tronco de árvore.

É uma sensação dentro de mim que me persegue e me inquieta desde sempre. Não estou satisfeita em apenas existir porque eu não sei existir. Não sei como é que se faz isso. Uma vez eu me senti tão bem que não escrevi por meses. A felicidade faz da gente estéril. Lembro-me claramente de pensar “pois então é assim que todo mundo se sente!”.

Queria contar uma história, mas só sei escrever sobre o que eu já vi. E sobre a minha vida eu não falo. Eu sou a minha maior referência na hora de escrever porque só sei falar de mim. Mas como é que eu vou saber se sou regra ou exceção? Com que propriedade eu poderia escrever sobre alguém se nem eu mesma eu conheço? Fiquei a tarde toda tentando me achar e não consegui, acho que eu não tenho forma. Cada vez que uma coisa me toca eu mudo e me transformo em algo completamente diferente.

É como uma palavra na ponta da língua. Eu sei exatamente o que é, mas não consigo por em palavras e isso me dá uma angústia horrível. Esquisito.

O leitor que me perdoe, mas não sei o que é isso.