Melancolia
Meu olhar amanheceu úmido
como chuva outonal.
Acena-me que estrelas caíram à noite e não pude vê-las, estava febril cansada e flutuava em delírios.
Muita coisa mudou de lugar.
Acordei sem fome, assustada neste chão sagrado.
Sim, ainda sinto pássaros, ninhos e perfume dos lírios.
Ainda sinto o roçar delicado de orvalhos escorrendo pelas pétalas e folhas.
Compreendo mudanças que não posso evitar e abandonada começo este texto-pensamento-prosa como se falasse com você.
Aninho-me nas polainas, no casaco grosso, pois sinto frio, um frio que vem da febre da alma......
O chá quentinho de alfavaca com mel e açafrão fará com que me revigore e confiarei de novo em asas e aromas( a repetição convence).
A causa dessa melancolia foi por excesso; saí da zona de conforto ( silêncio da oca), adoro ficar na concha e a mesma foi invadida por amigos e familiares por carinho em meu aniversário e cansei.
Canso fácil com conversas que têm começo, sem meio e fim; conversar por conversar, música alta,comilança demais, lixo descartável.....
Equilibro-me entre a solidão da alma, melancolia e o silêncio.
Diante da natureza, essa aqui, do quintalzinho da Oca, onde colibris e borboletas revezam-se nas flores, desnudo-me, amarro as tranças violetas e caminho como se fosse catar conchinhas na praia e de repente ouço Fred brigando com sua filha Isabela como se a mesma tivesse 18 anos e só tem 2 aninhos! Fred está acabado, estressado, vive de aluguéis de mesas para festas e no momento ninguém está fazendo festas; agora que terminou a quaresma, quem sabe!
Nasci na quaresma e mamãe sempre dizia que era por isso que chorava muito, será? ( Hoje faz 1 ano que ela partiu com mal de Alzheimer e dei graças, é uma maldita praga.)Mas falava de lágrimas, gritos de Fred, da natureza, morte e por quê não dizer que o crack desapareceu das ruas de meu bairro? Acalmaram-se os meninos das canelas finas e os roubos diminuíram, estão noutra, não sei no quê, mas estão dando um tempo.
Não há melancolia quando falo do aqui e agora, não há muita lógica mas é assim que é.
O que falta?
Não sei ainda.
Sinto-me só, resfriada de tanto andar na chuva fria, descalça, com as tranças escorrendo pelo corpo e ainda bem que há lágrimas mornas pela face...
Minha irmã psicóloga diz que sofro de depressão mas não creio e sigo
cantando e tecendo como uma aranha.
Sinto a vida e penso: Como um beijo agora seria bom!
Amo o Outono, a rendição e não perco as esperanças apesar dessa loucura que me arrasta pra lá e pra cá.
Projeto no caminhar o riso delicado nas manhãs cheias de gorjeios e sigo...
Tenho segredos, caráter e ideais.
Descobri que não tenho controle sobre a vida, minha vida, sina e ironia.
Aplico aqui a subjetividade e "miro a catedral" mesmo com medos, paralisada, prudente, refaço-me e não me diminuo, caminho....
O núcleo que prefiro é reflexivo e passageiro; obriga-me a dizer que restauro valores.
Meus cegos olhos cansados de lágrimas,insones e observadores, quebram dores de altares e desencontros, bebem de minha realidade.
Se eu não viesse aqui, não teria convicção das perspectivas, aqui estou.
Quase ninguém me conhece mesmo quando canto; nem eu mesma me reconheço e se continuar escrevendo perderei de vez a identidade e tornar-me-ei o avesso do direito!
MELANCOLIA é isso: Faz-nos viajar pela Existência infinita.