DEUS MORREU

Por muito tempo quis relutar sobre essa cruel verdade que outrora Nietzche identificou “Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos” ( NIETZCHE, Friedrich). Não se trata aqui da morte de Deus na sua essência fenomenológica, mas uma morte que acontece com o advento da modernidade, com suas tecnologias e respostas para tudo, onde a figura da religião a cada dia esvazia-se. Tal reflexão me veio a mente no dia de hoje ( Sexta feira da paixão), no qual o catolicismo vem relembrar a morte de Jesus. Ao realizar um mergulho no passado e fazer uma analise comparativa, debrucei-me com tal constatação; Os povos antigos enxergavam o dia de hoje como algo sublime e no qual deveria ser resguardado de toda e qualquer mancha do pecado ou mesmo de todo o pensamento que levasse o indivíduo a imergir em tal situação. O que pode-se perceber nos tempos atuais é um grito silencioso do catolicismo romano em fazer com que seus fiéis praticantes ou participantes possam por algum segundo escutar o grito proferido no momento de dor no gólgota pela figura do cristo. Tal tentativa acaba sendo abafada na modernidade pelo som do arrocha, da sofrência ou da metralhadora. O dia que era outrora tratado como totalmente santo e reflexivo, hoje se torna palco de espetáculo e comercio para sociedade atual. Mesmo tentando gritar mais alto do que o “mal” que lhe acomete, o catolicismo não encontra fôlego suficiente para tal reação, pode-se se observar isso claramente nas celebrações que a cada ano esvazia-se da presença dos fiéis dogmáticos e contemplativos e dá espaço ao fiel espectador e turista que tem a sua cadeira marcada para sua volta anual para que possa cumprir a obrigação de participar de tal momento e dessa forma possa continuar tendo no seu passaporte o carimbo de Católico. Tais constatações somente me fazem, a cada instante aceitar a afirmação do filosofo, e acreditar em outra afirmação por ele proferida “Na verdade, o único cristão morreu na cruz” ( NIETZCHE, Friedrich). Mas nem tudo esta perdido, a sim como a Igreja católica espera que a cada celebração da páscoa aconteça uma ressurreição no espírito contemplativo de seus fieis, eu busco acreditar que deverá um dia, talvez muito distante, possa ser alcançado o verdadeiro sentido que é buscado, e que o manto do efêmero feriado possa dar espaço ao manto do sagrado. Através dessa nova roupagem os ouvidos dos fieis católicos possa substituir o grito do profano ( que é presenciado nos ritmos frenéticos das metralhadoras e das sofrências) pelo grito avassalador do cristo na cruz,para nos impulsionar a um momento de reflexão. Dessa forma poderemos trazer para o nosso cotidiano o brado do crucificado, embrenhado nos braços da dor, e junto com ele na nossa via sagra diária repleta de angustias, provações, lágrimas e sofrimentos subir ao gólgota e ousar gritar a Deus como forma de extravasar nossa dor, as palavras outrora ditas pelo cristo “ Eli, Eli, lammá Sabactáni” (Mateus 27,46). E após nos esvaziarmos, nem que seja por um momento das dores que nos rodeiam, possamos descer o monte com a certeza da ressurreição, não somente do corpo, mas de todas as nossas esperanças e perspectivas, trazendo a certeza que.

“ brilhar uma luz que nenhum espaço contém, onde ressoa uma voz que o tempo não destrói, de onde exala um perfume que o vento não dissipa, onde se saboreia uma comida que o apetite não diminui, onde se estabelece um contato que a sociedade não desfaz.” ( HIPONA,Agostinho.Confissões. p271)