NEGRAGENTE

Um dia, ainda espero falar sobre as relações humanas e me alegrar por não ter que colocar em pauta a cor, mas...

Estão abertas as discussões sobre racismo. Fala-se em cor, em empoderamento, (e aqui cabe uma ressalva, porque as pessoas estão confundindo empoderar-se com tornar-se agressivo), fala-se em evidenciar a beleza negra, fala-se na necessidade do negro se impor.

Porém a grande questão em relação as discussões sobre a cor de pele, é que ela acontece de forma errônea. Não se pode falar de pele, tentando imprimir nos pensamentos das pessoas que uma cor é diferente, porém é igualmente boa. Na verdade, a cor da pele deveria ser descartada em qualquer tipo de relação humana, pois esta é irrelevante quando as personalidades se encontram. A cor da pele não faz de ninguém diferente. Eu não sou diferente, também não sou igual, e talvez isso seja bem complicado de entender pois nos acostumamos com essa ideia dual de positivo-negativo, igual- diferente, preto-branco, enquanto temos uma infinidade de cartelas entre esses polos. Entre o preto e branco cabem tantas cores, que não podemos classificar ou mesmo nos lembrar de todas, então porque centrar nossa atenção na cor da pele. O que vale nos relacionamentos são as construções que se fazem, os conhecimentos que se adquire, e claro os laços que se tecem. Ninguém é um alienígena só porque tem uma cor ou outra. E essa história de : “Fulano é diferente, mas é legal” quando vão se referir a uma pessoa negra tem que acabar.

Eu não sou diferente, e nem igual, repito, sou apenas normal. Isso mesmo, sou normal. Quando você me vê, você não fica em dúvida se sou humana ou uma espécie de urso, por exemplo. Nunca me pararam na rua para me perguntar se sou gente ou onça. Ninguém nunca cochichou que me pareço mais uma leoa do que uma garça. Qualquer pessoa que me vê, vê uma pessoa, humana, simplesmente normal. Os meus olhos não são verdes ou azuis, mas se olhar bem dentro deles minha alma será desvendada, como qualquer olhar pode fazer. Tenho peculiaridades por causa da minha descendência, e algumas delas diz respeito aos meus lábios grossos, meu nariz arredondado, meu cabelo crespo, ( e lindo por sinal), minha pele corada, decorada, bronzeada, negra como ela só. E continuo normal.

A cor da minha pele não interfere na minha relação com o mundo, mas sem dúvida interfere na relação do mundo comigo, e isso me soa injusto. Eu penso que eu deveria ser olhada exatamente como sou. Alguém com uma lupa suja, embaçada pelo preconceito, não poderá jamais ver minha normalidade. É injusto que alguém seja julgado por ser preto, branco, albino, amarelo, ou seja lá como for. Nenhuma, absolutamente nenhuma característica física deveria implicar em nossos relacionamentos. As pessoas ainda se espantam com uma mulher negra casada com um homem branco. Ainda chama a atenção quando o chefe é negro. A presença de negros em alguns setores ainda causa constrangimentos. Limpe as suas lentes para que comece a perceber além da cor. Antes de falar com qualquer pessoa, certifique-se de ter as lentes das lupas limpas e em perfeitas condições, e então a cor da pele...

Bem, que cor da pele.

Ivy Silva Cunha

Ivy Silva Cunha
Enviado por Ivy Silva Cunha em 25/03/2016
Reeditado em 25/03/2016
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