Dúvidas

As dúvidas são parte essencial do crescimento do indivíduo. Elas indicam a sua inquietação interior e a busca pela verdade, acompanhando a mudança de crenças e a reavaliação de todas as antigas certezas que, no final, revelam-se menos certas do que pensávamos. Ter dúvidas faz parte da evolução da vida, que nunca é estanque, mas está sempre seguindo em frente, obrigando-nos a rever continuamente conceitos, ideais, ideias, opiniões e tantas outras coisas que compõem a nossa visão de mundo e a própria visão que temos acerca de nossas identidades.

De certa forma, termos que nos rever possui um lado positivo: prova que não é impossível mudarmos. A essência da mudança é inerente ao ser humano. Ele precisa mudar para evoluir, adaptar-se às exigências dos novos tempos, acompanhas a dinâmica social e adquirir habilidades que serão requeridas com tantas mudanças, as quais podem ser muito bruscas, trazendo inseguranças. Diante dessas inseguranças, é natural que surjam as dúvidas e o medo. E a pessoa se verá diante de um caminho durante o qual terá que tomar decisões, abrir mão de muitas coisas, fazer sacrifícios e se adaptar. É doloroso, porque nos tira da rotina que, boa ou não, dá-nos uma impressão de segurança e faz com que nos apeguemos a ela, impedindo-nos de ver o que precisamos mudar na nossa vida e em nossas personalidades.

A rotina pode criar uma sensação de que nada precisa ser mudado. Ficamos tão acostumados às coisas como elas são que nem percebemos que há aspectos errados em nossas vidas. Acabamos acomodados, anestesiados, insensíveis à nossa própria realidade. E a revelação dos problemas pode vir de forma violenta, como um choque, surpreendendo-nos. Perguntamo-nos como não havíamos percebido o que estava bem diante dos nossos olhos. Simples: não estávamos prontos para enxergar. Não é que não fôssemos intelectualmente capazes de fazê-lo, apenas não estávamos suficientemente amadurecidos para certas coisas, assim como uma crianças não é menos inteligente do que um adulto mas, com certeza, não é madura o bastante para lidar com muitas situações.

Então, quando nos vemos forçados a abrir os olhos e encarar a realidade, é como se o chão nos faltasse e todo o mundo que houvéssemos construído se destruísse. Vemos que as coisas e as pessoas são muito diferentes do que tínhamos imaginado. Isto não acaba com nossa vida, porém, acaba com o modelo de vida ideal que pensávamos que vivíamos. Daí, surgem as dúvidas. Perguntamo-nos quem somos, se tudo pelo que lutamos e em que acreditamos vale a pena, para o que temos vivido e aonde todas estas perguntas irão nos levar. Talvez nunca saibamos, porque as dúvidas nunca cessam. O ser humano as tem até morrer.