Timeline da vida
Alguns dias atrás, por razões da vida, me vi em minha faculdade, novamente, almoçando na cantina. Começo de ano sempre é um alvoroço. Os “bichos” estão chegando, com toda sua felicidade pós conquista e energia em êxtase. Os novos se misturam com os veteranos, porém, são de longe identificados. Não só pelas vestimentas, pinturas, chapéus e toda “macaquice” de costume, mas pelo alvoroço da pele, face e cor. Emanam hormônios demais! São verdadeiros vulcões em erupção! Tudo é novo, lindo, e tem pressa. O futuro parece promissor. A liberdade parece estar prestes a ser, finalmente, alcançada. Sorrisos, gargalhadas, assuntos diversos, achar um local pra morar parece tão fácil, há vaga nas diversas repúblicas, as pessoas que acabou de conhecer são seus melhores amigos, de anos! Vamos comer um salgado e beber uma coca? Onde é a próxima aula? E a próxima festa? Não há necessidade de silêncio, privacidade, e de te conhecer melhor. Um salgado no almoço serve, ou dois, sem culpa e medo de ser feliz! Os olhos são apressados em procurar as mais gatas da turma, e percorrer todo seu corpo, que é o que interessa, neste momento! As garotas parecem todas interessantes, felizes, "favoráveis"! Os garotos de pele firme, ainda meio desengonçados, comendo feito leões e emanando testosterona pra todos os lados. E eu? Em meio a todo esse barulho, preocupada com um milhão de coisas, apenas queria um lugar pra sentar e poder comer um grelhado de frango com salada e beber um suco... ou água. Sem sobremesa, que vai parar na minha coxa esquerda, sempre, deixando-a como casca de laranja. Eu, com meu velho all star branco e trança no cabelo, passaria muito bem, ainda, como estudante. Só que não! Preciso de silêncio e calma. Me preocupa o que como no almoço. Não tenho mais olhos pro mocinho bonito ou bombado, preciso de tudo, menos disso. Necessito de privacidade, morar sozinha, quem sabe. Balada? Dispenso, obrigada. Entendi que a faculdade é um futuro promissor que logo vira passado... Há muito, compreendi que essa tal liberdade, talvez, seja ilusão. Você amadureceu? Perguntei-me, sozinha. Não... o amadurecer é eterno. O tempo apenas passou, tornei-me mais chata, velha, cheia de contas para pagar, com pés de galinha nos olhos e ... esta semana acabo de completar 30 anos de vida, por esses dias, sou só nostalgia. Percebi que já vivi mais de 1 terço de minha vida, e que ele passou tão rápido quanto o piscar dos olhos... Percebi-me, com grande custo, menos jovem. Percebi-me aumentando levemente o comprimento das saias, e o tamanho das roupas. Percebi-me mais cansada. Percebi-me ainda longe de seguir meu plano de vida, que eu desenhava no caderno, quando pequena: casar com 25, ter filhos com 27, ser secretária e ter muitos papéis importantes para assinar. Você pode até fazer um rascunho, mas a verdade é que nunca saberá como serão as coisas no próximo segundo. É bem assim que a vida é. Cheia de surpresas e percalços. Mas, também venho fazendo esforço para lembrar de minhas conquistas e realizações, momentos de lutas e vitórias, momentos de derrotas, faz parte. Agora, começo a planejar, novamente, meu futuro, e desenhá-lo no caderno, tal qual como fazia aos 10 anos de idade... Talvez eu não seja tão pretensiosa, pois aceitei-me como uma cidadã comum, com sonhos comuns. Porém, sei que virá a vida, com força, e mudará sempre, tudo outra vez. Não tenho mais a inocência dos 10, nem a juventude dos 20 ao cursar a faculdade. Mas tenho a sensatez dos 30, a calma e a languidez para rascunhar meus sonhos outra vez... languidez, no dicionário, pode significar diminuição do ânimo, do vigor, e também voluptuosidade. No meu entender, é o equilíbrio entre o pensar, o sentir e o agir. Viver é um eterno buscar, de dentro pra fora e de fora pra dentro. Mas acredito que, mais valiosa do que a busca de realizações e afagos do ego, é a busca pelo autoconhecimento, pela essência da alma, da parte para o todo. No bagunçar dos meus pensamentos, ideias, ideais, percebi que a genuína liberdade é, na verdade, alcançar a nossa paz interior.