Espelho

Um espelho que já não reconhece mais a sua imagem. Ele olhou diversas vezes até atestar que aquele reflexo não lhe pertencia. Remoendo-se em inconformidade assumiu sua nova posição. Um estúpido apaixonado.

Ele era aqueles caras dotados de racionalidade, o amor não lhe atingia. Seguro de si nunca perdeu uma mulher, um homem. Do contrário muitos perderam-no. Sua coleção, ampla e invejável, era composta de histórias de amor com finais dramáticos. Aos dramalhões, um prato cheio. Para ele, uma inevitável via. Que convenha-se, apesar da sua aparente indiferença, adorava a cena.

Mas a cena agora era outra. Perdeu o roteiro do seu teatro.

O macho americano, dominador, envolvente. Se envolveu.

Não foi discreto ao se entregar. Não manteve pose.

Dos piores, dramatizou. Com ciúme em punhos. Das músicas melosas. Dos choros sem vergonha. Sem perceber foi perdedor do jogo que sempre ganhou.

Desolado. Só voltou a sobriedade depois de muitos goles de cachaça. Analisou, sentiu-se ridiculamente experiente. Sentiu na pele seus desamores. Se adiantou? Muito pouco. Estar na pele do ferido, torna-se mais prazeroso ferir. Indomável gosto do poder de ter. Ter aos pés em prantos.

Pronto para se restabelecer,

Só carregou pra si que o amor não é seguro.

Ele sabia, quem o amava ou o amaria ainda não.

Patrícia Campanholo Pereira
Enviado por Patrícia Campanholo Pereira em 20/03/2016
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