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Deitada em sua cama refletia. Hoje é um daqueles dias em que acordou e se sentiu desrealizada. Frustrada. E, como de costume, começou a pensar: na ausência de estabilidade generalizada, em todos os aspectos da vida. Esse contexto pra ela é desesperador, sofrível e só piora a infeliz ansiedade que adquiriu há um ano.
Todas as vezes que esse sentimento vem “roubar” a sua paz ou “pseudopaz”, a impressão que tem é que todas as pessoas ao seu redor (para não dizer no mundo) estão se sentindo desesperadamente ou extremamente felizes e realizadas. E o que desemboca desse pensamento? Bem, outro sentimento que a desagrada muito mais do que a sensação de frustração: se sente invejosa. É isso mesmo, INVEJOSA. Sentimento abominável para ela!
Abominável por um milhão e meio de motivos. Detesta pensar em desejar o que pertence aos outros. Mas na verdade não deseja o que o outro tem de material. O que deseja torna seu sentimento de inveja ainda pior: deseja a sensação. A sensação de realização, de satisfação com o que se tem, com o que se alcançou ao longo dos anos com a árdua luta de que não conhece, inveja de ver que os outros parecem ter se encontrado tão cedo enquanto ela ainda anda perdida, vagando, desnorteada, enquanto o tempo corre (e na sua mente, nesse momento, surge o coelhinho, da Alice no país das maravilhas, com o reloginho na mão – ou pata? – apontando o passar, correr, o voar das horas). Pois é. Alcançar abstrações iguais aos outros é ainda mais difícil, porque depende de muitas coisas: depende de saber identificar, de ter certeza do que se quer, de ter coragem e pôr em prática e, daí, se se consegue, pronto. Alcançou-se a plenitude, a tão sonhada realização e, consequentemente, o “feliz (es) para sempre”. Parece simples. Mas não.
Durante um tempo foi assim. Sabia exatamente o que queria e corria atrás como uma atleta com unhas, dentes, cabelos, braços, pernas, com sangue no olho e até se maltratando, se sufocando para conseguir o que queria e conseguia. Porque QUERIA, custasse o esforço que custasse, faria o que precisasse, claro que sem passar por cima dos demais (possui extremo sentimento de humanidade). Mas parece que tombou. Barrou-se. Foi de encontro a um poste em velocidade máxima. Ficou tonta, zonza. Esse algo com que se “bateu” parece que foi a vida lá fora, a realidade nua e crua como dizem (que clichê! Mas os clichês são verdades). Meu Deus!!! E a batida, pra ela, foi tarde... com muitos acontecem antes... alguns nem percebem. Ela percebeu, sentiu e sente ainda. Parece que está durando muito tempo. Nas suas contas, já era para ter passado, até por que já entendeu. Já compreendeu o recado, só não aprendeu a parte empírica de viver, de conviver, de sobreviver com ela, com a realidade dela, da vida lá fora, a vida nossa de cada dia.
E enquanto isso? Enquanto isso ainda está tentando... tentando se encontrar, identificar o que aqui do lado de fora, no mundo, pode trazer de sentimento de paz, de completude com o que tem dentro dela.