Breve eternidade
Como uma brisa morna que vem do oceano, ou uma lembrança doce que resurge das profundezas da mente, você reapareceu inesperadamente no meu caminho e eu achava que toda a vida, a felicidade, o encanto e o agrado que você me proporcionava já haviam passado e sido enterrados. Entretanto, foi no seu olhar, por mera fração de segundo, que me vi aprisionado e eu não consegui desviar. Em mim havia euforia e uma enorme vontade de dizer "oi", mas algo na forma como você me olhava me deteve e eu permaneci calado, com as palavras tentando saltar para fora através da minha pele. Pergunto-me se ainda sentes raiva de mim, ou se é ódio o que vi expresso em sua bela face; face essa que muito toquei e beijei nas antigas noites, face que vi sorrir e me admirar com enorme paixão; face que ainda surge nos meus sonhos e ao mesmo tempo que me acalma, me deixa em completa desorientação.
Foi só um breve momento, e em mim o tempo pareceu perder seu efeito, pois eu me peguei observando-o pelas costas e imaginando que eu o chamava e você me olhava como uma vez me olhou. Contei os segundos intermináveis daquele pedaço de eternidade e foi tudo o que eu precisava para entender que eu não posso mais te ver, sem afundar em um lamaçal de suposições e desejos que não se realizarão.
Dei-lhe, então, as minhas costas e observei o curto instante de prazer e agonia sair voando das minhas mãos, como uma borboleta à qual seria um crime prender.
Vai e leva contigo, mais uma vez, um pedaço do meu coração, pois eu sei que todos os meus pedaços que arrancaste de mim, ainda estão vivos em você, tal como os pedaços que tirei de ti ainda vivem em mim.