UM SAPO EM NOITE ESCURA
É tarde da noite.(Estamos nas "horas mortas" diria minha avó paterna).
Um trem já rasgou à distância o silêncio de meus devaneios.Engulo a seco o uivo das inquietações e mergulho no quase negrume que deita-se sobre a cidade.
Quase!
Posto que das luminárias escorre um anêmico ocre sobre o asfalto.
Na rua vazia, um sapo vadio...
Desengonçado,pára entre uma passada e outra.
Em sua "sapiência",observa um não sei quê,movimenta frenéticamente a papada,ensaia mais um passo e...vai.
(Deve estar engolindo o uivo de suas batráquias inquietações,confabulo cá com meus botões)
Do outro lado da BR,num terreno baldio,um emaranhado de arbustos rasteiros o aguarda em floradas de cor lilaz.
Êle,o sapo,prossegue em seu intrigante itinerário.
Feito um zumbi,espio pela janela a lerda trajetória do boêmio .
Uma lufada fresca de vento lambe-me as madeixas,embrulha-me feito múmia no suave tecido da cortina.
Um “cheiro de noite” entra-me pelas narinas,arrasta-me à paragens lilazes de meu íntimo,lugares que só a mim pertencem.
E o sapo embrenha-se no terreno baldio florido de lilás.
(Uma "sapa" o espera,certamente)
A noite é agora uma incógnita e eu...Um tolo no breu da paisagem a tecer elucubrações sobre um batráquio.
Pode!?
Joel Gomes Teixeira