Meu único medo é que eu me perca pra sempre
Tá tudo passando tão depressa que tenho medo de morrer amanhã e ficar com essa sensação de não ter vivido bem o hoje.
É que sempre fica uma coisa pra fazer, um abraço que não dei, um beijo curto demais, um gesto bom que deixei de fazer e isso vai se acumulando, vai criando dividas que não podem ser pagas e o tempo corre cada vez mais, já estamos em fevereiro, meu Deus!
E continuo fazendo as mesmas coisas, e agradeço por elas, porém são prisões. Estou sempre preso por excesso de amor, por excesso de destruição e reconstrução. Meu corpo já se viciou nisso, em se estragar e depois voltar ao normal, de chorar por dois dias e rir nos próximos cinco, meu corpo já se acostumou a doer.- Quando já não estou sentindo nada, morro. Ainda assim não estou em paz, ainda assim não estou tranquilo, nem a morte me tranquiliza.
Busco conversar comigo mesmo, tentar me convencer de que valho a pena e sou digno se ser amado e não preciso implorar atenção, e não é que eu não tenha amor retribuído, é que quero tanto a pessoa que, às vezes, carinho morno não me basta, quero marcá-la todos os dias e a possuir em cada ato.
Há um vazio que mora em mim, meu coração bate cada vez mais forte, o desespero toma conta das minhas veias e transpiro emoções, só que estou aparentemente tão calmo e quieto que ninguém suspeita, às vezes, me chamam de desatento mas estou preso em mundos paralelos e vivo três ou quatro realidades de uma só vez, o que é muito desgastante e inconstante. Ora sou autossuficiente, ora me humilho por um carinho mal feito, ora transito bem entre os mundos intelectuais, ora não sei coisas básicas que um cidadão comum deve saber. Ora atravesso mundos, enfrento dragões, fantasmas do passado, ora não consigo dirigir um carro. Isso tudo é tão desgastante, que, às vezes desisto, mas por algum motivo, o universo não me deixa desistir de mim por muito tempo, eis que volto em algum mundo e permaneço lá até poder transitar de novo. Minha alma me alimenta enquanto corro de mim mesmo, enquanto estou levantando, meio torto, a outra parte de mim está em pé, meu único medo é que isso um dia exploda e tudo vire pó e eu me perca pra sempre.