Pensamentos XXVI - Prazer
Como chegamos ao prazer? Ele depende de mim ou de alguma coisa externa para realizar-se? Quando faço sexo sinto prazer dado por intermédio de um outro corpo, quando como uma comida gostosa sinto prazer dado por intermédio de um objeto externo. É uma sensação de bem-estar, de preenchimento, que relacionamos com coisas que gostamos. O que acontece ao pensamento quando estamos tendo prazer? Ele pára! o contrário de quando estamos sofrendo. O prazer traz a atenção para o presente, para o agora, pois o prazer visa somente a si mesmo, que só pode ser agora.
Bem, penso que há duas formas se de pensar o prazer: Ou eu atribuo à outra pessoa, no caso do sexo, o veículo pelo qual eu chego ao prazer, ou eu atribuo o prazer a mim mesmo, como causador do efeito. Para que eu sinta prazer devo depender sempre de algo que não depende de mim?! Se eu não estiver bem, provavelmente minha relação sexual ou seja lá o que estiver fazendo, não me proporcionará nenhum tipo de prazer. Então não pode ser outro corpo a causa do meu prazer. Sentimos no outro nossa própria sensação. O prazer, nesse caso, depende de mim, se estou receptivo a ele ou não. Será que o prazer está relacionado ao “como” fazemos algo e não ao “o que” estamos fazendo exatamente? Quando comemos alguma comida gostosa, o prazer que sentimos seria o mesmo se estivéssemos de luto? Creio que não. O sabor seria o mesmo, mas a sua baixa receptividade ao prazer diminuiria o impacto que o sabor teria se, no caso, você estivesse bem. Mais uma vez a causa não parece estar no objeto.
É possível sentir prazer em fazer uma determinada atividade da qual não gostamos? Sim e não. Se eu penso o prazer como efeito de uma causa externa, não, pois para mim o que faço no momento eu não gosto, atribuo o prazer, e de brinde o desprazer, a uma causa externa. Mas se, por outro lado, penso o prazer como efeito de si mesmo, como causa de si mesmo, então sim, pois não relaciono o meu bem-estar com o efeito de alguma causa externa.
Torno-me causa e efeito do meu próprio bem-estar. Se o prazer nos coloca aqui e agora, isso explica o motivo pelo qual o buscamos desenfreadamente nas coisas: para nos sentirmos vivos. Só podemos sentir a vida quando estamos alinhados a ela. Só se pode sentir prazer aqui e agora. Queremos nos sentir vivos, por isso consumimos demasiadamente, demasiadamente humanos. Não compreendemos ainda que tudo depende de nós. Por isso vivemos ansiosos, sempre antecipando através dos pensamentos, prazeres que poderiam vir a ser, e perdemos o prazer de viver a vida em todos os seus níveis e graus. Por isso vivemos exclusivamente pela memória, revivendo momentos em que sentimos prazer, pois o presente nos é insatisfatório por raras às vezes nos proporcionar prazer. Aleijamos a vida por pensar assim. O prazer é passageiro, e se o pensamos como um efeito nos tornamos dependentes do mundo como causa de os sentirmos.
O prazer está na forma como você faz as coisas, e não no que você faz. Se pensarmos o desprazer por essa ótica, e exercitar a atenção para o aqui e agora, talvez sentíssemos a vida que somos, o prazer de viver como um todo...