Conectados, porém divididos
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), atualmente o Brasil possui mais de 200 milhões de habitantes. E de acordo com o Facebook, 92 milhões de brasileiros acessam mensalmente a rede social americana.
Esses dados foram apresentados para deixar bem claro que nós, brasileiros, adoramos estar conectados. Temos uma necessidade sincera, e quase inconsciente, de compartilhar nossos melhores momentos (e até mesmo os que nem são tão bons assim) com amigos, familiares e desconhecidos, e sabemos o quanto é essencial, para nós mesmos, comentar toda e qualquer notícia que eventualmente nos chame a atenção na timeline do Face.
Mais, com a popularização dos smartphones por aqui, não há exagero algum em afirmar que estamos praticamente sempre online, recebendo, produzindo e reproduzindo informações, sejam elas relevantes ou não.
Tudo isso parece maravilhoso, e realmente seria, se fôssemos todos iguais. O que obviamente não somos.
E também não fomos devidamente preparados, e educados, para interagir com quem pensa de forma diferente.
Eu posso exemplificar isso: hoje sei que uma determinada amiga é totalmente contra a redução da maioridade penal no Brasil, e seus posts diários não permitem espaço para dúvidas. Também descobri que um tio meu não é lá muito favorável ao casamento entre homossexuais, e que, na verdade, isso parece lhe incomodar bastante.
Perceba que eu não perguntei nada disso a eles, as informações simplesmente chegaram até mim, por estarmos conectados.
Não estou julgando se suas opiniões são certas ou erradas, boas ou ruins. A única coisa que posso afirmar com toda certeza é de que são bem diferentes das minhas.
E isso muda as coisas, ao menos um pouco.
Afinal, são pessoas que convivem comigo, e que eu pensava conhecer bastante. Continuo tendo por eles um carinho e respeito enorme, e é exatamente por isso que tenho plena consciência de que esses assuntos deverão ser evitados na nossa próxima saída a um barzinho ou na reunião em família do mês que vem.
Só que a situação muda um pouco quando é você quem posta algo, achando que está protegido no seu 'infinito particular facebokiano', e começa a receber algumas curtidas e/ou respostas mal-educadas de seus amigos, e de amigos de seus amigos. Agora é você quem acaba de apresentar aos outros um lado seu, que lhes era, até então, desconhecido.
E, dependendo do grau de intimidade e do tipo de relação, vocês vão ter que decidir se vai valer a pena ou não, discutir isso pessoalmente.
Parece bobagem, mas acontece bastante. Amizades desfeitas, e depois refeitas; parentes que param de se falar até o próximo churrasco; namorados que brigam e depois trocam juras de amor virtuais. Ah, essas maravilhas modernas da comunicação humana!
E por fim, ainda existe aquela situação em que, por algum motivo, achamos ser uma boa ideia opinar sobre um fato polêmico, de ampla divulgação, e que já conta com milhares de curtidas, comentários e compartilhamentos. Nessa hora, estamos saindo do nosso particular-quieto-quase-seguro para dar a cara a tapa 'mais publicamente', por assim dizer. E o tapa quase sempre vem, amigo.
Dependendo do assunto escolhido, só existem dois lados: o seu e o errado. E quanto mais exaltados os ânimos estiverem nos comentários, maiores serão as chances de você, após ter sua opinião publicada, acabar no meio de um cabo de guerra, recebendo curtidas, elogios e (muitos) xingamentos.
Antes de continuarmos, é preciso lembrar que, na 'vida real', nossos avós já discutiam política e futebol na fila do pão de domingo, e eu não lembro de ter escutado que deveríamos deixar nossa mente aberta para opinião dos outros em momento algum da minha infância.
Na verdade, eu me recordo bem de um velho ditado popular que dizia: “futebol, religião e política, não se discutem”. E isso parecia ser algo bastante sábio a ser feito, tanto que eu procurava aplicá-lo em tudo, principalmente nas minhas redes sociais (sem obter muito êxito, confesso).
Acontece que o tempo nos faz perceber que qualquer assunto pode, e deve, ser discutido, desde que com respeito, cordialidade, e, principalmente, deixando de lado essa necessidade de ter que mudar a cabeça do outro para que ele concorde com você, de qualquer jeito.
Na verdade, precisamos entender que ver nossa opinião sendo respeitada hoje em dia já pode ser considerado uma vitória.
Voltando aos nossos problemas virtuais de convivência...
Bom, talvez já esteja passando da hora de aprendermos a nos relacionar melhor. Somos um povo falsamente tolerante nas ruas, cuja intolerância se concretiza com mais intensidade no mundo virtual. Não aceitamos que o outro prefira vermelho, quando nos preferimos azul, e passamos mais tempo discutindo sobre quem está mais certo, ou qual Deus salva mais, até o ponto em que esquecemos de unir nossas forças (e cores) para tornar nosso Brasil melhor, e acabamos por continuarmos vivendo mais do mesmo.
Estamos sempre online, compartilhando, comentando, curtindo e aguentando uns e outros. Chegará o momento em que seremos obrigados a evoluir juntos, para a nossa própria sobrevivência no mundo virtual.