Devaneio

O cansaço traz consigo a vontade de aliviar-se. Os olhos teimam em querer fechar. Tudo é incômodo. Ainda insisto em me manter acordada por alguns instantes, achando que algo vai acontecer, mesmo já perto da meia-noite. Sem saber como, de alguma maneira, começo a entrar em um outro mundo, aos poucos vou me desligando do real e me ligando ao outro lado. Sonolenta, mas viva. A mente não pára. Essa não descansa um segundo. Quando o resto do corpo se acomoda à noite, é que ela desperta. As preocupações do dia vão se esvaindo e uma energia diferente vai tomando forma. Que mundo é esse que não se mostra com clareza? Sei que é fascinante. Sem rumo navegando por aí encontro pouca gente. Numa hora dessas o mundo inteiro dorme. O que essa pouca gente faz por aqui? Suas mentes devem ser como a minha... Devem estar à procura de algo, esperando também algo que surpreenda. Mas, todo mundo resolve não se falar e mergulhar cada um em seu próprio mar. A televisão ligada na sala não me diz mais nada além de que já não é mais hora. Do outro lado agora estou. E o que me importa é viver nesse mundo. Já estive sozinha outras vezes, nessa imensidão dentro de mim. Quando isso acontece é um muito triste. Mas hoje não é o caso. Meu coração está em paz, nele há a presença de grandes amores, pessoas boas que me fazem bem. Sorrio para mim e para esses amores. Sinto-me segura com essa presença. É como se nossas mentes e nossos corações estivessem bem juntinhos, entrelaçados um ao outro, de forma a parecer impossível qualquer ruptura. Repentinamente, um desequilíbrio. Estaria buscando algo sobre mim? Para mim? Certamente. Quero absorver algo. Quero aprender mais um pouco, fazer algo que diferencie essa noite das demais e em seguida sentir-me bem, saciada. E vou indo... Achando graça... Assimilando e acomodando... Abruptamente, um estalo, uma associação e uma vontade. Ouso, arrisco. Crio, organizo, modifico, avalio e participo. Ah... Deslumbrada, orgulhosa! Só esperar para ver o resultado, que aparece de diversas formas só depois, bem depois. Sem pressa, curto o momento e assim me satisfaço. Mais tarde, outro dia, vejo no que deu. Agora não... Agora eu me rendo ao pesar das pestanas... Confortável, tranqüila e feliz, parto da consciência. E não sei mais de nada.