• FRAGMENTOS DO CORAÇÃO: LEGADO DE LEMBRANÇAS
É inevitável não falar de você. É inevitável não lembrar de você, quando abro uma garrafa de vinho, e coloco minha trilha sonora favorita para tocar, enquanto tento aliviar o cansaço da semana, e organizar os sentimentos que fluem em meu coração.
É inevitável, não olhar pela janela, e pensar, que ainda posso vislumbrar seu sorriso no espelho, que posso sentir seu perfume, ou que descubra um pouco de sua presença em algo que permaneceu de você em mim. É inevitável, ainda que para muitos deveria haver esquecido você, mas porque esquecer. Porque deveria esquecer quando ainda que tenhamos seguido caminhos diferentes, escolhido destinos diferentes, por alguma razão, oportunamente encontrei você, talvez para descobrir que podemos estar bem perto, estando distante, que podemos dizer tanto e sentir imensa e intensamente, ainda que dois mundos sejam separados por todo universo. Sim, porque esquecer, o que fez meu coração sorrir. Esquecer, seria renegar o que havia de mais verdadeiro e sincero entre nós. Esquecer, seria dizer não, abdicar das lembranças boas de momentos que posso lembrar sem que doa ou sofra por não havermos seguidos juntos. Esquecer, que por inúmeras vezes sorri enlaçado em seu abraço, que adormeci entrelaçado em seus braços, que estive sozinho, e você surgiu sorrindo, como quem pudesse aliviar esse imensa sensação que sinto quando você não está perto.
É inevitável não lembrar de você, não pensar em você, quando o dia amanhece, ou quando a noite iluminada pela lua surge no horizonte, distante. Sim, é inevitável, porque você foi um capítulo em minha vida, em que fiz o que pude para ser bom para você e melhor para mim. Aquele capítulo que deveria ter registrado com sua co autoria, porque não há nada mais bonito do que descobrir que fez parte da vida de alguém, e que esse alguém contribuiu para que sua vida fosse melhor. Sim, é inevitável, não sorrir, ou sonhar com você, é inevitável não falar de você com carinho, saudade, e nunca com uma falta, porque fez falta, enquanto sentia culpado por não haver dado certo, durante aquele período em que culpei você por não ter sido diferente. Culpei você, e senti culpado por tudo que não fomos, mas sinceramente fomos tanto, de uma forma intensa, de um jeito que ainda não há explicação, talvez porque uma justificativa, uma razão faria tudo que fizemos perder o lado mágico, sublime, intenso e delicado. Sim, você foi embora, e é inevitável não lembrar de você, não querer sorrir, por descobrir que a vida seguiu em seu curso natural, e que não há culpado, não há ofendido ou ofensor, há sim, quem partiu e quem ficou.
Há aquilo que permaneceu, que foi eternizado, porque não saímos completamente da vida de ninguém. Deixamos resquícios, rastros, digitais, deixamos lembranças, boas ou más, deixamos saudade, deixamos aquilo que semeamos, florescer com o tempo, e com aquilo regamos o que foi semeado.
Ainda lembro de você, ao apanhar, a garrafa de vinho, e ouvir algumas melodias, ao organizar os sentimentos e emoções de uma semana que termina, ao fazer uma analise do que foi conquistado e cultivado durante cada capítulo de minha vida. Sim, é inevitável não pensar ou lembrar, mas hoje, sem dor, sem medo, sem querer voltar no tempo, e mudar o que teria sido do mesmo jeito. Que seria do mesmo jeito ainda que tivesse agido de forma diferente.
Sim, é inevitável. É inevitável, não sorver uma taça de vinho, e sentir um sorriso formar nos lábios, porque não posso mudar o passado, e o presente, é onde preciso fazer o que é preciso, para que com o futuro, haja outros tantos capítulos bonitos quanto aqueles que foi permitido compartilhar e viver ao seu lado.
• Damien Lockheart