Mongolizando
Resta apenas
O que já se perdeu.
Mesmo que não ouçam os ouvidos,
As vozes dos que falam
Ecoam pelos absolutos silêncios.
Causando espanto aos mais velhos
E sacudindo a poeira dos homens
Que choram por medo.
Linda, não chores!
Não há em mim
Algo mais nobre que a tua alma.
Há muito tenho me procurado.
Mas entre deuses e cachorros
Escarros e filosofia
Sempre sobra quem lhe diga
O que fazer.
Ser eu o que sou aos outros?
Ser os outros o que esperam de mim?
(Olha que o amor roubou-me a lucidez. Faria eu tudo por lucidez, desejando assim não me trair. Mas disso tudo resta apenas um calor,
Que acolhe meu pranto, ante à face esmagadora do mundo.)
Justiça?
Com qual justiça trata
A si mesmo o coração?
Um órgão qualquer
Que pulsa por uma vida
E todas as mortes;
Em nosso movimento de evolução;
Do ponto ao ponto;
Da pútrida miséria
Ao panteão inacessível
Do deus que és
E não és
Numa dualidade que me faz
Perder o sono.
-Que eu acho não significa nada-
Que tenho hoje é a gratidão por estar aqui.
Tenho hoje a certeza de não acordar amanhã.
Que tenho hoje,
E para sempre terei hoje,
É o supremo diante dos meus olhos
E minha própria existência
Embrulhada pra viajem.