Mongolizando

Resta apenas

O que já se perdeu.

Mesmo que não ouçam os ouvidos,

As vozes dos que falam

Ecoam pelos absolutos silêncios.

Causando espanto aos mais velhos

E sacudindo a poeira dos homens

Que choram por medo.

Linda, não chores!

Não há em mim

Algo mais nobre que a tua alma.

Há muito tenho me procurado.

Mas entre deuses e cachorros

Escarros e filosofia

Sempre sobra quem lhe diga

O que fazer.

Ser eu o que sou aos outros?

Ser os outros o que esperam de mim?

(Olha que o amor roubou-me a lucidez. Faria eu tudo por lucidez, desejando assim não me trair. Mas disso tudo resta apenas um calor,

Que acolhe meu pranto, ante à face esmagadora do mundo.)

Justiça?

Com qual justiça trata

A si mesmo o coração?

Um órgão qualquer

Que pulsa por uma vida

E todas as mortes;

Em nosso movimento de evolução;

Do ponto ao ponto;

Da pútrida miséria

Ao panteão inacessível

Do deus que és

E não és

Numa dualidade que me faz

Perder o sono.

-Que eu acho não significa nada-

Que tenho hoje é a gratidão por estar aqui.

Tenho hoje a certeza de não acordar amanhã.

Que tenho hoje,

E para sempre terei hoje,

É o supremo diante dos meus olhos

E minha própria existência

Embrulhada pra viajem.

Wan Carlos Firmino
Enviado por Wan Carlos Firmino em 02/02/2016
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