Desejo sem dó
Os sapos gordos com olhos rapinos me olham sempre a certa distância. Não distância propriamente dita, mas como se fosse de jeito distante aos seu olhos e olhares.
Me ambicionam.
Creem ver em mim certa centelha, um amor, ou uma rasa santidade.
Creem encontrar em mim o encaixe para torná-los vivos de vez.
Logo eu que sou o mais morto de todos.
Talvez por isso me persigam.
Porque querem a morte, anseiam-a crendo procurar a vida.
Se não por isso então nao sei o que é.
Seus olhos olham desnudando-me a alma, caçando com maior fervor o que lhe sirva à mesa. Mas, então, nada encontram. Somente seus olhos desnudos refletidos. Então desesperam-se e apaixonam-se. E buscam cada vez mais fundo, mais dentro, mais incisivos, não sei se um vazio ou eles mesmos.