Desejo sem dó

Os sapos gordos com olhos rapinos me olham sempre a certa distância. Não distância propriamente dita, mas como se fosse de jeito distante aos seu olhos e olhares.

Me ambicionam.

Creem ver em mim certa centelha, um amor, ou uma rasa santidade.

Creem encontrar em mim o encaixe para torná-los vivos de vez.

Logo eu que sou o mais morto de todos.

Talvez por isso me persigam.

Porque querem a morte, anseiam-a crendo procurar a vida.

Se não por isso então nao sei o que é.

Seus olhos olham desnudando-me a alma, caçando com maior fervor o que lhe sirva à mesa. Mas, então, nada encontram. Somente seus olhos desnudos refletidos. Então desesperam-se e apaixonam-se. E buscam cada vez mais fundo, mais dentro, mais incisivos, não sei se um vazio ou eles mesmos.

Lucas Viana
Enviado por Lucas Viana em 02/02/2016
Reeditado em 02/02/2016
Código do texto: T5530829
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