LUÍS GAMA 201
LUÍS GAMA 201
A casa na Luís Gama 201, nem sei, se ainda existe neste hoje, mas resiste firme e forte
entranhada em minh’alma. Com seu muro baixo deixando ver a rua, bom tempo aquele dos muros baixos, uma escada de quatro degraus ladeado de balaústres, um pequeno alpendre ( será que as pessoas hoje sabem o que é um alpendre? ), duas cadeiras protegidas antes da porta de entrada do santuário ( para mim era ), e lá vinha a acanhada sala com um sofá de molas, quantas vezes não pulei nele e levei bronca, uma cristaleira, meio cheia, meio vazia, uma vitrola que volta e meia tocava Kalú na voz de Angela Maria, uma saleta, uma mesa, quatro cadeiras, as refeições deliciosas da mamãe, as risadas de papai,
uma cozinha mágica pela mágica cozinheira, dois quartos, uma cama barulhenta, umas goteiras que não deixavam dormir qual tortura chinesa, uns baldes com pano ( ufa!! Que alívio ) e nos fundos o quintal que era o mundo, galo que cantava, galinha que botava, cágado que aparecia e sumia, pato que corria pra bicar a bunda, cobras cegas que passavam, e os melhores amigos, Dick e Bolinha, vira-latas de raça pura, que me ajudavam a matar os ratos do porão. O quintal também tinha balancê de pneu, terra de montão, escorpião ( comida de galinha ), e aventuras sem fim, ao fim do que, lá vinha o banho de bacia, água fria no verão e embora morna, gelada no inverno. O fim foi a 55 anos, quando mudei e deixei para trás a dourada infância, que não se apaga, e vive a aparecer deslumbrante, como se hoje ainda estivesse na Luís Gama 201.