Metrô Linha 743

Recordações. Minhas próprias memórias póstumas. O elo entre o feto e a progenitora. Dádivas incomuns da vida, abortadas num sanitário de um hospital publico. A ligação entre o bem e o mal, o claro e obscuro. A vida que escorreu pelos dedos de um velho louco, a areia escorrendo pelos dedos de uma criança, espremida contra a porta num acidente de carro próximo ao metrô linha 743, o mesmo da canção do Raul. Sendo o homem uma metamorfose ambulante, afinal nascemos crianças, morremos monstros. Quem dera eles permanecessem em nossos armários, porém vivem entre nós, vivos dentro de nós, se não fosse assim não teríamos crescido. Teríamos parado nas brincadeiras de rua, nos cafés da manhã cedo, nos almoços pontuais e jantas tardias. Ah, mãe, me salve desse delírio, pois no fundo nem a ti eu conheço ou tuas rezas a ave-maria. Bendita sóis vós entre as mulheres, bendito seja o fruto do seu ventre, o qual foi removido e operado em uma mesa de hospital. Todas as lembranças tuas foram arrancadas de mim, pois não me lembro de nem ao menos uma fala tua antes dos treze. Por onde esteve todo esse tempo? Em que beco e ruína afundaram?