Pensamento XVI
Queremos justificar o sofrimento, queremos dar-lhe uma significação, um sentido. Para quê? Quando estamos felizes não necessitamos de justificações, elas que se explodam, queremos apenas desfrutar da alegria. Por que com o sofrimento deveria ser diferente? Queremos só o que é doce, nos repugnamos diante do amargo, como se houvesse maneira de conhecer um sem o outro.
"Eu sofro!" portanto...
Precisamos de sentido, pois faltamos a nós mesmos. Esse sentido pode ser qualquer coisa desde que justifique para nós o sofrimento que estamos vivenciando. Isso narcotiza a mente, embota, anestesia e vicia, a dor continua mas agora dói por um motivo. Nos aliviamos...
E para isso alguém tem de ser responsável: Alguém precisa reconhecer que sofro, alguém precisa pagar pelo que sinto. Eu preciso culpar alguém, seja os deuses, demônios, pessoas, a vida em si - culpada.
Ninguém consegue admitir que simplesmente sofre. Não há nada pior para o homem que a dor da falta de sentido. Por isso temos tanta necessidade de religiões e metafísicas. Como se o sofrimento fosse algo alheio a vida e tivesse de ser banido porque nós não aceitamos sofrer. O que deve ser banido é a má-consciência que por um ato monstruoso de reducionismo tornou a vida uma coisa que deve ser redimida.
Uma semente para que possa crescer e expandir precisa morrer muitas vezes para se tornar uma rosa. E o que ela faz? Apenas vive, e isso já é em si a sua justificação.
Quando julgamos ou tentamos justificar nosso sofrimento estamos julgando e justificando a vida, estamos nos dividindo da vida interpretando-a de acordo com nossa necessidade de não sofrer - culpando-a. Ainda há muitos modos de sentir.
Não somos responsáveis por coisa alguma, sentimos que somos responsáveis, mas não somos responsáveis por sermos "assim e assado", por sentir isso ou aquilo.
Quanto mais tentarmos acabar com o sofrimento mais vamos construir uma humanidade superficial.
Que minha única meta seja dizer Sim! a tudo que me acontecer e a tudo que eu escolher.
"O insuportável não é só a dor, mas a falta de sentido da dor, mais ainda, a dor da falta de sentido." (Nietzsche)