pensamento XII

O perdão só pode ser concebido ao outro depois que, primeiro, o concebemos a nós mesmos. Perdoar-se para depois perdoar - eis o motivo pelo qual poucos são os capazes de perdoar sinceramente. Passamos quase vinte e quatro horas vivendo em detrimento da memória ou pela antecipação do que ainda não é. Perdoar é esquecer. O processo de digestão de nossas experiências se dá no esquecimento, no processo inconsciente de assimilação da memória, e aquele que não esquece é porque se sente demasiado insatisfeito com suas lembranças, consigo mesmo, desalinhado com a experiência direta da vida. Isso consome energia, desgasta.

Ele vive no passado, ruminando feito uma vaca o que não lhe agrada. Ao invés de direcionar essa energia e se alinhar ao fluxo de experiências do dia a dia sem se deixar vaguear pelo torpor que o sentimento de vingança e culpa lhe causa.

"EU não aceito isso" - "MEU orgulho foi ferido" - geralmente, "meu" "eu" são pensados com toda a potência do conceito de vítima e culpado. Sua fraqueza o obriga a perseguir o fio da memória, pois ele não suporta as imagens que ele mesmo cria de si mesmo. Que demônio é para si o homem.! Ele não quer justiça, ele quer vingança. Mas age em nome da justiça. Essa vingança é uma espada forjada no fogo da memória dolorida. A memória em si não é um problema, e sim o sentimento ressentido com a qual é pensada. Na verdade, ele quer somente anestesiar-se do sofrimento que o machuca por dentro com a espada que o ferreiro (ressentimento) criou para si mesmo.

Fiódor
Enviado por Fiódor em 26/01/2016
Reeditado em 27/04/2020
Código do texto: T5523466
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