Me troque por flores vivas
Nesta noite fria, escuto o vento bater sobre os vidros da janela, amedrontada me encolho na escuridão do meu quarto, me cubro para tentar fugir do barulho, mas para ser sincera, meu medo não está no encontro dos sopros dos céus com o ferro da parede.
Minha mente é um constante aleatório, e neste instante ela se encontra determinada à não desabar, tentando controlar as lágrimas que pedem para sair, para ver o que está acontecendo aqui fora, mas não posso permitir. Hoje eu estou bem.
Daqui um mês e um dia estarei completando meus três anos de morte. 22 de fevereiro de 2013 foi quando a melhor parte de mim se foi, quando o melhor abraço me deixou, e o olhar mais sincero, se fechou por completo, e me deixou sem saber o que fazer; fará três anos que acordo todos os dias pedindo você de volta, ou que Deus me leve embora.
Hoje quando passei pelo espelho da sala não reconheci o corpo que nele se refletiu, parei, observei, coloquei minhas mãos sobre meu rosto, deixando apenas meus olhos visíveis, o azul se tornou cinza, quem é? Porque carrego tanto arrependimento no peito? Me disseram que o tempo iria curar essa dor, mas não curou.
Fazem dias que não durmo direito, a madrugada me traz tormentos, e essa confusão não me deixa em paz. Estou exausta, estou presa neste corpo, perdida neste caos. Caminho por este mundo com apenas um objetivo, o único que me resta. Se não posso resgatar meu eu, irei lutar para salvar vidas alheias, fazer o bem sem olhar a quem, porque as pessoas precisam sentir como é bela essa vida, porquê aqui, não significa mais nada. Porque aqui já não existe mais eu, e só me resta estender as mãos para quem realmente permanece dentro de si mesmo.
Por que ainda escuto os gritos noturnos? Só quero uma noite tranquila, um sono contínuo. Pare de caminhar sobre o meu corredor, não te chamei para estar aqui dentro, não permiti sua entrada, e hoje eu ordeno que me deixe em paz, que não atrapalhe o escuro que estarei quando fechar meus olhos. Você já me assiste vazia na luz do dia, então permita que eu possa recarregar minhas forças, pelo menos. Corpo vazio eu suporto, mas mente cansada, meus pés não sustentam.
Tudo bem, amanhã será um novo dia, e meu aleatório ainda estará ligado, e eu estarei mais uma vez, me reinventando para que o externo mostre vida, enquanto o interno dorme num colchão de passados que não vão embora. Abrirei meus olhos, lavarei meu rosto, me sentarei na beira da cama para admirar sua foto em cima do piano, e então atravessarei a porta, dura porta que me aguenta sem rancor,no rosto carrego a expressão de não ligar, e continuarei neste monótono, nesta rotina.
Não quero mais ser o travesseiro molhado por lágrimas, a ouvinte da infelicidade, ou até mesmo, o saco de pancadas. Eu só quero ir.
Sou um constante tanto faz, a flor seca dentro do vaso que insistem em deixá-lo em cima da mesa na esperança de que aquela água trará cor as pétalas novamente, mas ninguém percebeu que todas já caíram sobre a mesa, e que o vermelho se tornou marrom, seco marrom, pronto para ser descartado.