Tempos Estranhos...
Em uma entrevista recente sobre seu papel no filme Carol, onde interpreta uma dona de casa apaixonada por outra mulher, a atriz australiana Cate Blanchett declarou:
”... O interessante ao interpretar um papel como Carol, é que sua sexualidade é uma questão particular, e eu acho que o que frequentemente acontece hoje em dia, é que, oh, se você é homossexual, você tem que falar sobre isso constantemente, isto tem que ser a única coisa que você tem que colocar antes mesmo do seu trabalho, antes de qualquer outro aspecto de sua personalidade.”
Acho que ela está coberta de razão! De repente, as pessoas começaram a tratar a homossexualidade como se ser homossexual significasse algo muito especial, do qual deveriam orgulhar-se – antes de terem orgulho de sua honestidade, bom caráter, solidariedade. O mesmo se dá quando se trata da cor da pele, como se ser branco ou negro, por si só, dignificasse alguém. Bem, não saio por aí divulgando minhas preferências sexuais e nem acho sensato colocar a cama na rua.
Eu não tenho orgulho branco, nem orgulho hétero, e muito menos, orgulho de ser mulher. Estas características dizem muito pouco sobre mim. Não as escolhi, elas nasceram comigo. Não foram um prêmio por algo que realizei, não representam uma conquista.
Vi no Facebook um vídeo da fotógrafa, Meran Varges, que em outubro de 2015 contratou atores para fotos da campanha sobre a importância do autoexame preventivo do câncer de mama. Antes de começar a sessão de fotos, ela chamou cada um dos atores e começou a conversar com eles sobre a doença, perguntando se alguma vez algum deles tinha perdido alguém da família, ou tido a doença, etc; de repente, ela ergue a blusa e mostra que não tem um dos seios. Vi o choque no rosto dos atores, e acredito que alguns deles prefeririam não ter tido que passar por aquilo. Alguns começaram a chorar, pois não estavam preparados para o que viram. Depois, ela os convida para um abraço, ainda nua, e só então, eles começam a fotografar. Acho que ela queria que as fotos tivessem emoção real, mas achei desnecessário o que ela fez.
Acho as campanhas importantes para que a doença seja desmistificada, e também para alertar as pessoas, mas alguns exageros são desnecessários.
Em 2009 passei por uma histerectomia para retirada de órgãos com tumores – que após biópsia foram classificados como não-malignos , mas que segundo o médico, poderiam vir a tornar-se cancerosos-, e não fico erguendo a roupa para mostrar a minha cicatriz a ninguém.
Já tive pessoa muito querida na minha família que morreu devido a esta doença, e ele não a ostentava como se fosse abençoado por estar com câncer. O câncer é uma doença muito grave, e devemos todos fazer o que for possível para preveni-la e/ou tratá-la, e aqueles que se curam devem sentir-se gratos; mas há outras doenças igualmente graves, e que não recebem a mesma atenção. Acho que as pessoas hoje em dia tratam o câncer como se ele estivesse “na moda,” e eu não consigo entender isso.
Há um certo exagero nas atitudes das pessoas, talvez pela facilidade que a mídia hoje em dia nos oferece. Eu vejo a coragem como uma coisa que nos leva a fazer algo que poderíamos não estar fazendo, mas a fim de conquistar um objetivo, ou ajudar alguém, nós escolhemos nos arriscar. Ficar gravemente doente não é uma escolha, e portanto, embora possamos escolher encarar o tratamento com coragem, estar com câncer, por sí só, não é sinal de coragem ou heroísmo.
Talvez minha visão pareça simplista demais, mas é o que eu acho.