Não errar mais. Ser livre para ser

Eu precisei viver quase vinte e seis anos para descobrir isso que vou escrever agora.

Passamos tanto tempo das nossas vidas, por causa da cultura e também da educação, tentando agradar as pessoas. Pintamos, esculpimos sobre nossa carcaça algo que está longe de ser quem realmente somos, ou o que realmente queremos ser. Na realidade, muitas vezes nunca pensamos sobre qual cor gostamos, qual roupa, cheiro, programa de televisão, profissão, corte de cabelo, com quem quero me relacionar, por quem tenho atração, qual tipo de relacionamento quero manter, que vocabulário quero utilizar, quantos quilos quero pesar, de que jeito quero viver.

Tudo isso vem pronto, padronizado, pelo tempo, pela cultura e por pessoas ao redor.

Por isso mudar é tão difícil.

Mudanças são frustantes, porque lutamos tanto para nos encaixar em um molde difícil, que gerou sofrimento e negação, que quando nos deparamos com uma verdade que combata a nossa (criada), enlouquecemos, surtamos e nos irritamos muito.

Porque nunca fomos livres, ou nunca nos permitimos nos libertar do padrão, por um desejo egoísta de ser amado por todos, ou pelo menos não ser julgado ou ainda odiado.

Mas o que mais importa, não é primeiramente amar-se? Descobrir realmente quem é?

Tão difícil né, a começar que nem nosso próprio nome podemos escolher. Eu gosto do meu nome ou eu preciso gostar dele? Afinal eu vou morrer com ele e não gostar seria um sofrimento até o fim.

Por isso muitas vezes discutir uma ideia é frustrante, porque não temos o começo, o meio da formação daquela ideia, temos apenas o fim, que foi construído por outra pessoa e violentamente vestido em todos nós, assim como nosso nome.

E aí vem aquela frase hipócrita, faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço.

Essa frase é a máscara do "erro", o sintoma de não conseguir seguir os padrões ensinados. Se fosse tão perfeito assim, eu faria o que eu falo. Mas não é, e não pensamos sobre isso.

Não é pecado discutir sobre sua fé, sobre o aborto ou sobre qualquer outra coisa nessa vida.

Eu discuti, pensei e li muito sobre coisas que me indagavam, mesmo isso indo contra tudo que aprendi com pessoas que amo. Foi difícil, muito! Porque tentei me sabotar muitas vezes, mas no final tive o meu começo, meio e fim da ideia construída no meu âmago, que pode mudar e ser repensada a qualquer minuto. Claro que sempre há interferência de alguém, mas as peças do quebra cabeça não formarão a mesma imagem.

Mas não quero falar sobre política, religião ou qualquer teoria.

O que quero dizer é que: o que é bom para muitas pessoas, pode não ser bom para você. Clichê né? Mas esse clichê é negado por muitos, que temem ser diferentes.

Ser médico, ateu, cristão, vegano, carnívoro, ter um parto por cesária ou poético com doulas, casar cedo, não casar, ter 3 filhos ou não ter, ser homossexual, bissexual, hetero ou assexuado. Olha quanta coisa podemos ser.

Ao final de tudo devemos pensar que, cada teoria te obriga à alguma coisa, e como está na moda por aí dizer, não somos obrigadas ou obrigados à nada. A não ser respeitar o outro, em todos os sentido, inclusive nos julgamentos.

Essa é a parte principal do meu texto. Quando você não quer ser julgado, você também não julga. Apresentar sua verdade pode ser muito mais que ir contra a verdade do outro.

Ninguém consegue algo saudável com birras.

O ponto que quero chegar com esse longo rapport, é falar sobre nossos erros.

Quantas vezes erramos, traímos e fazemos coisas que nos envergonhamos. Não sabemos porquê fazemos tal coisa, porque lutamos para sermos invencíveis, amados, ditadores e venerados. Caminhamos ao lado do estresse porque queremos ser mães, mas realmente não sabemos se queremos ser donas de casa. Porque se eu for mãe preciso me dedicar, mas se não for profissional em alguma coisa posso ser considerada mais burra ou julgada por não fazer "nada", mas se eu não me dedicar ao meu filho serei uma péssima mãe. MEU DEUS!

Não precisamos ser melhor que ninguém! Precisamos ser quem realmente queremos ser. E aí aliviado? Quando realmente sabemos disso, não existem mais questionamentos como esse. Posso ser uma coisa só ou todas e dar um jeito, para não me sentir mal.

Pode deixar o vestibular de medicina, a OAB, a maquete da engenharia e vai ser artista mesmo que você não tenha todo o dinheiro desse mundo, mas você terá felicidade.

No final buscamos ser amados para termos poder e lá estará o almejado, condenador, modelador dinheiro.

Mas é só acompanhar sites, revistas de fofoca, que as pessoas com teoricamente mais influência nesse mundo, não são necessariamente felizes.

Essa é a segunda lição, você não precisa ser melhor que ninguém, mais inteligente ou rico para ser feliz.

Então pronto, eu não preciso ser a pessoa mais amada, eu não preciso ser melhor que ninguém, e ai?

E aí que você tem que cavar o mais fundo para saber das suas vontades, do seu provável destino e de suas fraquezas.

E o que isso tem em relação com meus erros?

Tudo.

Você não precisa mais trair sua namorada, você terminará com ela, porque na realidade quem gostava dela são seus pais.

Você agora pode se achar bonita e segura com seu vestido curto ou longo que ama usar.

Você pode parar de fingir que é frígida e mentir para seu marido, porque na realidade você é gay.

Você pode parar de dar desculpas para galera que não quer sair, porque você quer orar na igreja.

Você pode parar de chorar, porque quer ser artista.

Você pode parar de colocar maquiagens no rosto, porque pode e deve amar sua cicatriz.

Você pode parar de vomitar ou passar vontade de comer, porque o que tem demais ser manequim 42?

Você pode ser livre para não sentir dor e se sentir mais segura no parto, ou ser livre para ter seu parto normal sem julgamentos.

Você pode parar de se culpar por comer carne.

Você pode deixar de comer carne porque ama os animais.

Você pode largar seu terno e ir viver no mato em uma aldeia onde se vive de forma alternativa.

Você pode plantar e fumar sua maconha em paz.

Você pode ser amigo do maconheiro.

Você pode defender uma mulher quando vê ela sendo maltratada verbalmente ou físicamente.

Você pode se expor ou pode se esconder.

Você pode dizer ao seu marido que não quer transar com ele porque não é mais romântico.

Você pode dizer a sua esposa que sabe que ela não quer transar com você.

Você pode se declarar.

Pode gostar de todas as cores.

Pode perdoar a traição.

Pode adotar uma criança.

Pode plantar uma árvore.

Pode namorar com a mulher mais velha.

Você pode se encontrar com você.

E sentir o prazer de se conhecer.

E sentir o prazer de respirar com seus pulmões.

E sentir o prazer de ver seu coração bater mais forte.

E se despir de toda aquela pressão, estresse, depressão de todos aqueles padrões.

Aprender a falar o verdadeiro não.

Aprender a sentir seu coração e a não ter medo de falar verdades.

Porque as verdades não são vergonhosas, elas são você com todas as consequências.

E as pessoas ao seu redor tem que se adaptar ao que quer ser, sentir, provar e enfim

Dará liberdade para que elas sejam quem são.

Porque quando você se entende é capaz de entender e respeitar quem quer que seja.

Você não tem mais medo.

Porque sabe exatamente o que é.

O que quer.

O que não precisa ser.

E diz.

E faz.

E é.