FALECER

Já me perguntaram de que forma eu queria enfrentar a minha morte, certamente até ser surpreendido com essa indagação que me fez refletir sobre mim mesmo nesse sentido, achava que minha opinião ainda era a mesma que tinha desenvolvido precocemente. Mesmo assim não tive que gastar muito tempo pensando sobre o que quero, pois percebi primeiramente que falecer num momento poético como olhando as estrelas do céu e escutar as ondas da praia batendo nas rochas e quem sabe apreciando o espetáculo do por do sol, não eram necessariamente o que me faria feliz, pois a felicidade incondicional é a mais simples e profunda, pelo menos aquela que já se viu em mim quando era criança, a felicidade com poucas condições. Mas nessa altura, já me tornei complexo e só posso me dar a oportunidade de ser realista e nesse contexto escolher o que não quero para mim nesse momento, acho que fiz quase instantaneamente uma lista de coisas que talvez fosse importante no sentido do sentir.

Uma delas posso dizer que seria a dor, ora ela está sempre presente em minha vida , quanto mais nesse momento, ela assume diferentes formas; mas falando profundamente só posso dizer que se alguma delas ainda existir em mim, quero que sejam tão pequenas quanto uma formiga, diminuta mesmo que eu não pudesse ignorar totalmente. Gosto de associar o que há no subjetivo de uma mente com coisas que me trazem a chave para entendê-las, portanto não a temerei na hora da morte, pois se até a dor de uma simples formiga pode me acordar para alguma realidade, espero está ciente dela a tempo e está pronto para corrigir o que for que precise ser corrigido, no meu interior ou exterior. Portanto, mesmo na morte espero assumir uma posição de poder perante minhas dores e saber que elas , assim como eu, também tem prazo de validade. E assim é tudo, e como tudo terminará cientificamente ou religiosamente falando. Acredito que a morte é mais parte do que somos do que o próprio nascimento, porque de que modo seriamos parte de tudo o que é se fossemos diferentes? E se um por do sol não deixa de ser maravilhoso por se tratar do fim de um dia, como poderia nossa existência ser transformada e atribuída um valor sublime a ela não fosse através de um momento tão único como esse? A eternidade não poderia ser alcançada pela vida eterna dentro da nossa percepção como seres que somos, mas sim por esse simples fato inevitável que não podemos compreender totalmente até sermos também eternos como a beleza da luz que a vida deixou em cada um de nós.