Mãe

Quero que saiba que não sou feliz. Deveria perceber sem que precisasse falar. Achei que uma vida de total reclusão numa rotina casa/escola/trabalho a faria entender que ao mostrar os dentes no que para você seria um sorriso, choro por dentro. Meus olhos transparecem essa tristeza, mas nunca nos vimos de frente. A frieza, herança de família, chegou como inverno intenso. E não se foi. Uma barreira intransponível com a magnitude de icebergs nos separa, nos coloca em lados opostos. Posso te ouvir, mas não sinto. Você nem isso. Não falo. Fico engasgada com tanta coisa que gostaria de jogar fora. Posso morrer a qualquer momento, posso explodir por tentar sozinha controlar um mundo que só existe dentro de mim, do qual só eu tenho conhecimento. Desculpa. Não sou a filha que sonhou, não sou o que esperava. Até aí tudo bem, não consigo ser nem o que eu mesma espero. Só quero que saiba que não sou feliz. Talvez conheça a felicidade ou pequenos fragmentos dela. Em mim sempre foi visitante, nunca fixou residência.