FRAGMENTOS BIOGRÁFICOS: O TEMPLO, A PASSAGEM E O RESTO PODEIS SABER DE VÓS MESMOS.
A fonte já nascera turbulenta em meio às coisas e aos catatônicos gigantes que habitavam o vazio com as espúrias gêneses de suas mentes.
Com um pouco de tempo, as águas do pequeno rio subiam confusas em suas próprias margens, inundando-lhe o estranho e imanente fulcro antes mesmos que suas próprias e ácidas chuvas começassem a cair para todo lado. Soubesse que imantações frenéticas de tantos vultos o contaminaram com fantásticas estórias de mitos, lendas e deuses avessos, talvez se revolvesse ao apagamento enquanto inconspurco, mas permitiu-se sonhar, o que viria a lhe fazer padecer de vontades impossíveis.
Devastadora revolução houve quando tudo começou a dissimetrizar nos primeiros pensamentos independentes. Era preciso compreender as verbalizações soçobradas aos ventos pelos homens que fabricavam tessituras pálidas, com seus reflexos não revelados.
O pequeno cerne aceitou em si o compêndio do qual se livravam, habitando-se entre o alvo e o púmbleo. Os mitos, as lendas e os deuses foram-se morrendo, então, um a um. Era preciso não mais lhes crer. Era preciso que se os tornasse, com as consequências de tal escolha. Era preciso arrebentar o veio cromatizado pelos verdadeiros dilapidadores de verdades, e se aceitar um cerniente e apócrifo criador de imagens.
Tornei-me, então, um assumido construtor de gêneses ursas, em abrigos de grandezas que não me eram de direito. A imaginação se queimava em qualquer parte. Primeiro, naquele pedaço de cama, ao som da barulhada confusa de falas adjacentes, como que se (ao meu redor) universos estivessem se colidindo, e das colisões surgissem outras abnormidades pseudovivas.
Minha casa já era o mundo que veria no porvir, embora não soubesse ainda. Segredo que, no silêncio meu, inaugurei (devaneado)estórias de seres estranhos, em dobras de caminhos onde a batalha continha algum vencedor que se naufragava em seu ego vitorioso. Vencer era a sentença da própria abnormidade. Um autocanibalismo invisível começava a me consumir pouco após o início da jornada com fim imprevisível, e uma angústia incompreendida começava a me embrutecer em meus recônditos convulsivos.
Mas a transformação se dava não só em casa, mas em toda parte, num enigma não desvendado: a terra se devastava em candidezes mascaradas. Homens se açoitavam com em reciprocidades verbais. Candidezes eram estupradas com cortejos alvos. Alguns pássaros-negros nasciam e morriam sem provarem dos meles e dos feles das searas férteis. Tudo feito pelo e para o Salvador, assumido em paradoxos de glórias e inglórias. Todo o Universo lhe pertencia ali naquele canto da pequena mente.
O conhecimento do mal também lhe era intrínseco e inalienável: foi o primeiro gole amargo do vinho; após, a embriaguez seria inevitável. As pelejas bravias se acabavam tal qual se principiavam. Inesperadamente. Vinham e se iam na loucura silenciosa.
Mundos construídos em momentos, até a parálise diante da descoberta - sob aquele poste que iluminava, a pouco, a rua encascalhada em meio à poeira que brotava do chão, misturada com o incenso enfumaçado do monótono movimento diário dos seres que compunham os cenários: também era nada mais que um humano abnormal, e a vida seria movida por pseudoconjecturas, entre demônios e fantasmas que se seguiriam cernientemente pelo caminho.
Adiante, inertes, moviam-se sob meu olhar recém descoberto os demais templos em sorrisos e brincadeiras. O movimento dos corpos compunham uma bela e surda sinfonia, da qual sobrariam apenas reminiscências apagadas. Delirava diante do paradoxo que acabara de descobrir, e ainda lutava para não transpor a passagem que continuava a se abrir, escorrendo cada vez mais oceanos de visões que me petrificavam.
Os goles vinhescos estavam ainda no início. Tornar-se-ia um ainda bêbado compulsivo. A viagem se mostraria longa e, assim como era inevitável compor mundos estranhos, era também necessário retornar a vestir a roupagem humana. No mesmo espaço onde antes surgiam imensidades de palcos onde atuava, surgia também a força do convívio, onde se acendiam os sentimentos mortais. Brinquei ali como não mais viria a brincar. Amei com uma pureza que não tardaria a se perder.
As primeiras palavras e os primeiros toques avançados trouxeram medo e sensações tão fortes que me faziam tremer o corpo. Marcariam para sempre o momento e prepararia para o assentamento da aberração. Os oásis imaginários também não tardariam a se contaminar. Fui reis, plebeus e palhaços. Fui amantes joviais. Fui estrangeiros a chegarem e a partirem. Fui os mais rejeitados, para depois ser os mais amados. Fui choros. Fui sorrisos. Olhares sem desvios. Abraços em desejos. Afagos em corpos. Passagens para camas, para paraísos e para infernos invisíveis.
Vastidão em devaneios dementes de quem não conseguia se manter acordado por tempo demasiado, tentando-se evitar o choque fatal. Alerta. Fugidio. Fortalezas criei. Impenetráveis. Conquistas e perdas coabitavam-se a todo momento. Sentimentos e intensidades: convulsões se assentavam na carne e na mente.
Uma flor teimava se soerguer entremeio à tênue luz de minha pouca razão, em meio ao seco jardim de minha casa. Algo de encanto nascia e, a pouco, seria perdido após o olhar se distrair por além das retilíneas curvas dos horizontes. E a flor, incauta e alheia à grande floresta que me havia dentro, já me surgia condenada entre espinhos e ervas daninhas que lhe iam contaminar a pureza das pétalas.
Outras fontes também apareciam entre as estrelas desordenadas, povoando os contrastes projetados para minha proteção ou poder. Da tentativa de rearranjo, novamente a contaminação e a morte do que nunca fora. O conhecimento trouxe quedas. E do conhecimento buscou-se alívio no desconhecido, atingido pela imaginação do poderoso ser forjado às imperceptíveis sombriedades: inevitáveis levitações, inevitáveis quedas. Tantas e de tal modo que se fugia a qualquer razoabilidade, daquele estado pseudovegetativo em que me tentava firmar, sem conseguir (no entanto) evitar as ruminações mentais e os acordes ressoados pelos demais sapiens que compunham ao que chamam realidade da grande cena.
Decrepitude. A passagem se estendia, cada vez mais fragilizada, sobre toda a área possível (ou não), rompendo por sobre todos os horizontes, sem em nenhum deixar de cair seus escombros. E eu me deteriorava junto com a passagem, sem ter algo qualquer em que se abarcasse, além de fracos relampejos de luz que, incapazes de se sustentarem em meu ser, apagavam-se diante de espelhos de fiéis reflexos.
Era iminente a chegada da grande noite. Fria. Pouco sobraria da fonte já nacituramente complexa, a não serem os oníricos e dementes abrigos de autodefesas, autopunições ou autogloricações.
II – Do ego
Adormecido eu sob a visão estreita do que continham os falantes professores com seus boletins e livros, incapaz de apreender do que dispunham em suas cátedras frágeis. Incapazes eles e todos de apreenderem do que eu secretamente me transformava.
Havia ali tantos monstros que era possível algum avanço por entre o que arrotavam despercebidamente. Haveria de aprender não o ensinado, mas também sobre os mitos falsificados que vestiam branco, em poses cavalheirescas. Haveria de tentar visualizar neles o que tentavam manter invisível. Estaria eu preparado para tal escolha? Feita. E de feita, germinaram as consequências.
Entre todos os observados despercebidos, a diretora não arrotava muito. Era-me, de fato, um ser estranho. A obesidade escondia um silêncio que me intensificava a vontade de entrar, o que não foi difícil. Já me habituara em espraiar minhas insalubridades verborrágicas.
- Escolha de ratos, medíocres doutores que pensam ensinar alguma coisa, mal sabendo de si mesmos. Filhas da puta!
Talvez poucos a tenham visto além daquela obesidade mórbida. Mas eu vi um canibalismo que me aliviou das penas a mim mesmo impostas: Com a frieza da postura e o olhar sombrio mostrou em suas ações a resposta a minhas incursões ao gabinete. Agradava-me descortinar a confraternização dos ilustres mestres, que tentavam moldar, às suas dissemelhanças os templos que desabrochavam. Ouvidos atentos ao que já havia efluído silente à mente alucinada. Nenhuma descoberta.
Estupros aos próprios ensinamentos surgiam verbalizados de suas entranhas. O cão da escola passou a ser visitante comum, sem que percebessem que deles se alimentava além da bela casca que os envolvia.
A pupila da obesa extravasou em reação à ação do pequeno cão raivoso com seu filho por uma disputa qualquer, antes da marcha da independência, feita todos os anos pelas ruas da cidade. Impossível não ver o cerne daquele dragão que cuspia e aprender sobre a inevitabilidade da ira daquela gente estranha.
Meninos não têm tanta maldade: a primeira lição, à qual saboreei silenciosamente depois, de frente ao mundo que eu queria compreender. Esbravejou e espancou sob os olhares de seus comuns.
O espancamento foi aceito em meio ao medo que aprenderia a controlar posteriormente, assim como a exposição obrigatória em frente ao pelotão, humilhado, sem que ela percebesse que também alimentava a força interna que tentaria consumir o mundo em seus secretos esconderijos, e que disso enfrentaria os gigantes do porvir.
E tantos e de tantas formas que nada mais, nada menos a olhar do que apenas sentir o rio com destroços que foram alimentando um poder sombrio que devoraria da própria carne, cuspindo nas redondezas.
Ferro e fogo. Mentalmente invisível em todas as suas composições.
Crescia o monstro assim. Haveria a hora certa de engolir moscas, já premeditado pela mente ainda não ampla para absorver o conjunto, mas tão somente as partes dele. E não tardaria que viesse a fatalidade: confrontaria gigantes e pairaria, certo ou não, sobre eles.
Fortalecia-se o ego quanto mais me abrigava em meus esconderijos. Poder-se-iam saber o quanto praguejei ou amei? Ou como se constituí as cousas somente para meu agrado ou um lugar onde expurgar entranhas?
Do ego fortalecido a vontade de violar. De sobrepor-se. Filosoficamente ruminava em busca de conhecimentos para ter um olhar panorâmico. O ego do monstro, outrora mascarado, começava a se sobrepor em leituras diversificadas e ainda não compreendidas pelos que se sentiam preparados.
As primeiras palavras e os primeiros toques avançados trouxeram medo e sensações tão fortes que me faziam tremer o corpo. Marcariam para sempre o momento e prepararia para o assentamento da aberração. Os oásis imaginários também não tardariam a se contaminar. Fui reis, plebeus e palhaços. Fui amantes joviais. Fui estrangeiros a chegarem e a partirem. Fui os mais rejeitados, para depois ser os mais amados. Fui choros. Fui sorrisos. Olhares sem desvios. Abraços em desejos. Afagos em corpos. Passagens para camas, para paraísos e para infernos invisíveis.
Vastidão em devaneios dementes de quem não conseguia se manter acordado por tempo demasiado, tentando-se evitar o choque fatal. Alerta. Fugidio. Fortalezas criei. Impenetráveis. Conquistas e perdas coabitavam-se a todo momento. Sentimentos e intensidades: convulsões se assentavam na carne e na mente.
Uma flor teimava se soerguer entremeio à tênue luz de minha pouca razão, em meio ao seco jardim de minha casa. Algo de encanto nascia e, a pouco, seria perdido após o olhar se distrair por além das retilíneas curvas dos horizontes. E a flor, incauta e alheia à grande floresta que me havia dentro, já me surgia condenada entre espinhos e ervas daninhas que lhe iam contaminar a pureza das pétalas.
Outras fontes também apareciam entre as estrelas desordenadas, povoando os contrastes projetados para minha proteção ou poder. Da tentativa de rearranjo, novamente a contaminação e a morte do que nunca fora. O conhecimento trouxe quedas. E do conhecimento buscou-se alívio no desconhecido, atingido pela imaginação do poderoso ser forjado às imperceptíveis sombriedades: inevitáveis levitações, inevitáveis quedas. Tantas e de tal modo que se fugia a qualquer razoabilidade, daquele estado pseudovegetativo em que me tentava firmar, sem conseguir (no entanto) evitar as ruminações mentais e os acordes ressoados pelos demais sapiens que compunham ao que chamam realidade da grande cena.
Decrepitude. A passagem se estendia, cada vez mais fragilizada, sobre toda a área possível (ou não), rompendo por sobre todos os horizontes, sem em nenhum deixar de cair seus escombros. E eu me deteriorava junto com a passagem, sem ter algo qualquer em que se abarcasse, além de fracos relampejos de luz que, incapazes de se sustentarem em meu ser, apagavam-se diante de espelhos de fiéis reflexos.
Era iminente a chegada da grande noite. Fria. Pouco sobraria da fonte já nacituramente complexa, a não serem os oníricos e dementes abrigos de autodefesas, autopunições ou autogloricações.
II – Do ego
Adormecido eu sob a visão estreita do que continham os falantes professores com seus boletins e livros, incapaz de apreender do que dispunham em suas cátedras frágeis. Incapazes eles e todos de apreenderem do que eu secretamente me transformava.
Havia ali tantos monstros que era possível algum avanço por entre o que arrotavam despercebidamente. Haveria de aprender não o ensinado, mas também sobre os mitos falsificados que vestiam branco, em poses cavalheirescas. Haveria de tentar visualizar neles o que tentavam manter invisível. Estaria eu preparado para tal escolha? Feita. E de feita, germinaram as consequências.
Entre todos os observados despercebidos, a diretora não arrotava muito. Era-me, de fato, um ser estranho. A obesidade escondia um silêncio que me intensificava a vontade de entrar, o que não foi difícil. Já me habituara em espraiar minhas insalubridades verborrágicas.
- Escolha de ratos, medíocres doutores que pensam ensinar alguma coisa, mal sabendo de si mesmos. Filhas da puta!
Talvez poucos a tenham visto além daquela obesidade mórbida. Mas eu vi um canibalismo que me aliviou das penas a mim mesmo impostas: Com a frieza da postura e o olhar sombrio mostrou em suas ações a resposta a minhas incursões ao gabinete. Agradava-me descortinar a confraternização dos ilustres mestres, que tentavam moldar, às suas dissemelhanças os templos que desabrochavam. Ouvidos atentos ao que já havia efluído silente à mente alucinada. Nenhuma descoberta.
Estupros aos próprios ensinamentos surgiam verbalizados de suas entranhas. O cão da escola passou a ser visitante comum, sem que percebessem que deles se alimentava além da bela casca que os envolvia.
A pupila da obesa extravasou em reação à ação do pequeno cão raivoso com seu filho por uma disputa qualquer, antes da marcha da independência, feita todos os anos pelas ruas da cidade. Impossível não ver o cerne daquele dragão que cuspia e aprender sobre a inevitabilidade da ira daquela gente estranha.
Meninos não têm tanta maldade: a primeira lição, à qual saboreei silenciosamente depois, de frente ao mundo que eu queria compreender. Esbravejou e espancou sob os olhares de seus comuns.
O espancamento foi aceito em meio ao medo que aprenderia a controlar posteriormente, assim como a exposição obrigatória em frente ao pelotão, humilhado, sem que ela percebesse que também alimentava a força interna que tentaria consumir o mundo em seus secretos esconderijos, e que disso enfrentaria os gigantes do porvir.
E tantos e de tantas formas que nada mais, nada menos a olhar do que apenas sentir o rio com destroços que foram alimentando um poder sombrio que devoraria da própria carne, cuspindo nas redondezas.
Ferro e fogo. Mentalmente invisível em todas as suas composições.
Crescia o monstro assim. Haveria a hora certa de engolir moscas, já premeditado pela mente ainda não ampla para absorver o conjunto, mas tão somente as partes dele. E não tardaria que viesse a fatalidade: confrontaria gigantes e pairaria, certo ou não, sobre eles.
Fortalecia-se o ego quanto mais me abrigava em meus esconderijos. Poder-se-iam saber o quanto praguejei ou amei? Ou como se constituí as cousas somente para meu agrado ou um lugar onde expurgar entranhas?
Do ego fortalecido a vontade de violar. De sobrepor-se. Filosoficamente ruminava em busca de conhecimentos para ter um olhar panorâmico. O ego do monstro, outrora mascarado, começava a se sobrepor em leituras diversificadas e ainda não compreendidas pelos que se sentiam preparados.
A comunialidade não atraía. A visão devia estar em pontos diferentes e horizontes vastos. A Cosmologia foi o primeiro porte. Seguiram-se as ciências e a matemática. A língua-mãe de certo deveria ser dominada também tão somente para desmascarar letrados. A filosofia veio mais tarde e contendo meus maiores opositores. A fé teve seu ápice para morrer em seguida, como tudo no qualquer em que me transformava.