DIAS CHUVOSOS

Ela estava ali deitada sobre o peitoral dele, ouvindo seu coração voltar ao ritmo normal depois dele cair em sono profundo. Gostava de vê-lo assim, calmo, sereno e sem as constantes rugas de preocupação, assim ele parecia só um menino necessitado de carinho. Ela adorava estar agarrada daquele modo com ele em todos os momentos possíveis, mas amava mais ainda em dias chuvosos, como aquele. Sentia-se em paz e sem pressa, algo raro; gostava do corpo “friozinho” dele, dizia que era uma combinação perfeita, já que ela tinha um corpo muito “quente”, ele simplesmente ria. Ela tentou por muito tempo convencê-lo de que o amava, tentando em vão ouvir o mesmo, mas ouvia-o somente dizer: “calma, tudo acontece ao seu tempo”. Mas a verdade é que nada aconteceu, ela nunca mais encostou a cabeça em seu peitoral, nunca mais ouviu o som da respiração dele dormindo, nunca mais estiveram juntos em um dia de chuva.  As promessas foram esquecidas, por ele, mas não por ela que ainda sentia em sua pele a dor da saudade. Ela bem que tentou perder-se em outros corpos, abrir-se para outras possibilidades que a fizessem esquecê-lo, todavia acabou procurando nos outros características dele, o que serviu apenas para enfatizar a cumplicidade que compartilharam. Ela só queria saber o que o fez ir embora, deixá-la sem sentir nenhuma dó nisso, queria bater nele, chorar, gritar que ele fora um cretino que a abandonou depois dela tê-lo feito seu “pedacinho do tudo”.    Diferente de todos os outros, amá-lo não foi uma decisão, simplesmente aconteceu como aqueles dias chuvosos quando a meteorologia indicava que seriam dias ensolarados. Amá-lo foi a melhor coisa do mundo e a pior também e quando ele foi embora, no coração dela, nunca mais fez sol e os dias de chuva nunca mais foram agradáveis.