AMANHECER RADIANTE
Já foram tantos os inventos, intentos, as imagens por entre as letras, a sedução a distância, tanto e tanto tempo. Já foram poesias trocadas, divididas, terem sidas, por ela amadas, por ele, envaidecidas. Tantas e tantas mensagens, noites frias, o sol se pondo, a lua nascendo, o amor estereofônico, telefônico, o mar, a realidade bem ali, uma abraço e um beijo, alí em Paraty. Não se vive uma verdade nem uma mentira por inteiro, nem tudo é falso, nem tudo é verdadeiro. Duas almas, nunca gêmeas, nem mesmo conhecidas, dois corpos que se uniram, num mar de acalantos, um nome, um apelido, uma pessoa, um personagem, misturados, um prazer por tempo limitado, não por ser casado, mas a cachaça, aquela ingrata, verdadeiramente chata, opôs-se ao santo milagreiro. Foi-se o tempo, a distância, entrou no ar, outra instância, tão vulgar, a julgar, aqueles poetas, aqueles crentes, indecentes, mas levando seu rumo, como queriam seus santos ateus. Era Branca aquela cor maldita, por um mês inteiro dividindo, partindo, sentindo no ar uma vingança, sua herança, do fantasma que levava sual alma e sua graça. De um, ainda enfermo, cara pálida, ao gordo, infame, o Diabo fez-se poeta, como num passe de mágica, de Gabriel arcanjo, a Lúcifer, louco, mentiroso, podre na carne e no sangue, morreu ali aquele exame, sem o réu, para ouvir a sentença. Já foram tantos os inventos, trago agora esses ventos, porque é chegada a hora, pois que curta é a vida, quero toda ela lida, aos filhos, aos netos, que se por um lado não foi santo, nem era meta, foi humilde escritor, que sonhou um dia, ser poeta. E se fez chorar a sua letra, chorou muito mais a solidão de ser a vítima de si mesmo, e aqui não cabe rima, cabe apenas a verdade de um verso, no ilimitado tempo de um instante, que se faça noutro dia, todo um amanhecer radiante.
A gente vê os fatos, mas não conhece os motivos.