Saudade
Acordei com saudade de um tempo que parece distante... que na verdade foi simplesmente "ontem".
De uma época em que se ligava só para escutar uma voz, e assim se deleitar em saboreá-la. De uma época em que se combinavam encontros com local e hora marcados (sem tecnologias que o garantissem), correndo o risco do desapontamento do desencontro, mas cuja expectativa era recompensada no primeiro sorriso.
Em que se conversava diante da presença das pessoas, olhos nos olhos, com a necessidade de respostas rápidas e espontâneas... Sem a existência tempo para respondê-las calculadamente.
Já não se ouve voz, sim leem-se palavras.... que nem ao certo se sabe a qual sentido correspondem. De semântica comprometida devido às interpretações pessoais.
Já não se valoriza presença, nem abraço! Aquela imagem natural e encantadoramente desajeitada... Sim uma valorização em demasia de imagens publicadas (que na verdade manipuladas).
Já, na verdade, não se consegue ler mais semblantes.... pela falta de oportunidades. E na existência delas, já difícil reconhecê-los... pela falta de habilidade e experiência.
Difícil de saber quem são as pessoas (qual o seu caráter e personalidade), para além do que é falado por terceiros... ou mesmo do que é intencionalmente publicado (curtido ou compartilhado) nas mídias sociais, simplesmente por não haver convívio suficiente para tal.
A tecnologia tem deixado os corpos distantes em situação de proximidade, mas também corpos próximos em situação de distâncias. Se ela tem de fato aproximado distâncias, ao mesmo passo, tem distanciado corações.
Saudade...
Saudade, na verdade, do tempo em que se acreditava que a tecnologia estaria ao serviço do homem... Não o contrario!