Navios negreiros.

A cultura, se assim pode-se denominar o ato de diferenciar as pessoas pelo biótipo, cor ou qualquer outra estrutura física aparente, possui origens tão profundas quanto a origem do planeta. Está valendo a hipérbole? No Egito a cultura de categorizar as diferenças contidas em cada ser humano foi muito bem feita e ressaltada por meio de desenhos. Talvez tenha sido a Dádiva do Nilo, então, a primeira comunidade em que as impressões de diversidade contidas na espécie humana começaram a ser divididas. As posteriores civilizações adotaram o conceito de superioridade e inferioridade através da classificação de conceitos como escrita ou colocação social, predominação de conquistas e etc. Grécia, Roma.. É importante frisar que até antes das Cruzadas e do fim do Império do Oriente, onde uma nova onda de estrangeiros começa a ‘’reinar’’ sobre a Europa, não existiam ideias que demarcavam essa ‘’pureza de sangue’’, até hoje encontradas em olhares. Essa mesma ideia que denuncia seres superiores, pelo fato de se acreditar que um é mais limpo que o outro, surge ainda na época da descoberta das Américas. Onde a reflexão de dissemelhança seguida por um tratamento diferenciado aos chamados inferiores justifica-se justamente pela falta de fatores iguais nos estrangeiros, ali, já tratados como espécie de mercadoria. Teorias de civilização e credibilidade às ‘melhores existências físicas’, somadas a interiorização do estrangeiro resultavam na crença de que os mesmos não seriam seres humanos merecedores de respeito, ou seja, seres sem alma. Este foi um dos argumentos utilizados para justificar o tráfico negreiro. Com efeito as marcas de um passado tão ridículo, não encontrei outra melhor palavra, mostram-se tão vivas e infinitas quanto a estupidez humana. Possivelmente o tráfico negreiro ainda viva a navegar em sancas de depósitos mundo à fora, tão exposta quanto antes, a arte do maltrato não vigora apenas aos possuidores da marca de Caim, sobretudo aos próprios manipuladores da maldade. E é um grande navio a transportar bêbados infames, crentes de certezas tão miseráveis quanto os que já morreram e estão a apodrecer.

Mirela Lourdes
Enviado por Mirela Lourdes em 17/12/2015
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